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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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egidas pela cultura burguesa heterossexista, judaica, cristã, patriarcal imposta pelo<br />

colonizador branco.<br />

149<br />

Contudo, seja qual for o modelo usado, o hibridismo, como<br />

descrição cultural, encerrará sempre uma política implícita de<br />

heterossexualidade, razão adicional, talvez, para que se conteste a<br />

sua preeminência contemporânea. A razão para esta identificação<br />

sexual é óbvia: a ansiedade do hibridismo refletia o desejo de se<br />

manterem as raças separadas, o que significava que a atenção se<br />

concentraria imediatamente na descendência da raça misturada,<br />

produto da cópula interracial – legados vivos, encarnados e<br />

prolíferos deixados para trás por uniões abruptas, casuais e muitas<br />

vezes coercitivas. Nesta situação, a relação entre parceiros do<br />

mesmo sexo, ainda que claramente encerrada numa dialética da<br />

sexualidade racial do tipo diferente-mas-o-mesmo, não consistia<br />

numa ameaça, porque não produzia crianças; a sua vantagem é<br />

a de que permanecia silenciosa, encoberta e sem marcas. Assim,<br />

diante dele, o hibridismo há de sempre consistir numa categoria<br />

resolutamente heterossexual. Na verdade, em termos históricos, se<br />

teve algum efeito a preocupação com a amalgamação racial no sexo<br />

com o mesmo sexo foi de estimulá-lo (afinal, jogar o jogo imperial<br />

era uma prática homoerótica. (YOUNG, 2005, p.31, destaque<br />

nosso)<br />

A questão proibitiva que incitava o papel negativo das relações<br />

heterossexuais entre brancos e negros respaldava as teorias que tentavam impedir a<br />

degeneração racial pela miscigenação. “Fechar os olhos e tapar os ouvidos” à prática<br />

homossexual entre colonizador e colonizado, dentro de uma perspectiva de<br />

dissimulação silenciosa “não fale, não pergunte, não veja”, demonstra certo<br />

“relaxamento” e “mascaramento” da vigilância diante da homossexualidade, devido à<br />

incapacidade das relações entre iguais de gerar descendência enfraquecida pela mistura<br />

das raças. A homossexualidade, apesar de fazer parte do interesse da política imperial,<br />

por não ser prática sexual reprodutora, não deixava de ser colocada no campo das<br />

sexualidades transgressivas, incrementadora de “perversões” e “patologias”. Na<br />

verdade, o desejo sexual “doentio” direcionado a pessoas do mesmo gênero era<br />

considerado fruto nocivo advindo destas misturas.<br />

A sexualidade hegemônica heterossexual, respaldada pela ciência, dava a<br />

tônica do que seria legalizado como normal no jogo colonial. Por isso, a<br />

homossexualidade, ao lado do hibridismo racial, nos seus trajetos históricos ligados ao<br />

desejo sexual, continuava a refletir as tensões e distinções do desejo sexual entre as<br />

raças. As imposições de regras fixas que tentavam circunscrever raça e sexualidade,

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