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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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sentem de modo permanente, isolados e desterritorializados socialmente. “O<br />

homoerotismo, um estrangeiro nas sociedades heterocentradas do Ocidente, é o<br />

elemento que exige a constituição de espaços outros que possibilitem a sua<br />

manifestação e o contato entre as pessoas” (LEAL, 2002, p.25).<br />

A censura, velada ou explícita, sob a qual os homossexuais têm de conviver,<br />

serve como cerceador da liberação de Eros. Esta censura, ao mesmo tempo, promove<br />

uma pseudo-naturalização hierárquica das práticas heterossexuais, transferindo para o<br />

masculino heterocentrado, o ditador de regras, uma legitimação e legalização dentro do<br />

espaço público, enquanto as práticas ligadas às masculinidades marcadas negativamente<br />

são problematizadas e devem ser ocultadas ou não reveladas. Na verdade, vemos que “o<br />

homossexual é duplamente marginal. É marginal no sentido de estar, como a mulher, à<br />

margem do centro. Mas é marginal, ainda, no sentido conotativo do termo, na acepção<br />

de fora-da-lei, de pervertido, de imoral, de pecador” (THOMÉ, 2009, p.21-22). Ser<br />

integrante do grupo dos não heterossexuais masculinos é ser duplamente infamado: por<br />

si próprio, através da auto-infamação apropriada da condenação sócio-cultural<br />

naturalizada e pelo injuriador que nega ao homossexual um discurso positivo de si<br />

mesmo. “Um corpo que não consegue ser absolvido do sofrimento que infringe ao<br />

sujeito torna-se um corpo perseguidor, odiado, visto como foco permanente de ameaça<br />

de morte e de dor” (SOUZA, 1983, p.6). Mesmo aqueles que tentam passar<br />

despercebidos das hostilidades sentem essas pairar sobre suas cabeças como uma<br />

constante e insidiosa desqualificação, pois “a força da ordem masculina se evidencia no<br />

fato de que ela dispensa justificação; a visão androcêntrica impõe-se como neutra e não<br />

tem necessidade de se enunciar em discursos que visem legitimá-la” (BOURDIEU,<br />

2005, p.48). Desde raciocínio, a ocultação de suas realidades torna-se uma exigência<br />

que perpassa a vida social dos homossexuais, já que uma constante ameaça sobre seus<br />

corpos sexuados torna árdua a arte de socialização do afetivo-sexual para este segmento<br />

de sexualidade marcada negativamente.<br />

A violência das injúrias do heterocentrismo é tão marcante que o<br />

homossexual passa a dissimular sua prática, já que este modus vivendi é a maneira mais<br />

fácil introjetada por esta categoria social para “escapar” dos preconceitos. Mesmo<br />

aqueles que vivem uma prática “fora do armário” não conseguem fugir do estigma<br />

social negativo imputado pela injúria, pois os homossexuais, ou estão sempre sob olhar<br />

vigilante do cânone estabelecido pelo heterocentrismo ou já inocularam a vigilância em<br />

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