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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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apontados como efeitos do pecado da prática marginal de sexualidade. Este pecado era<br />

considerado tão terrível que não podia sequer ser mencionado na presença de cristãos.<br />

De passo em passo, o cristianismo vai impondo um código moral e uma ética<br />

sexual no Ocidente, estabelecendo o que era certo ou errado. Com as reformas católica e<br />

protestante inicia-se a introdução de uma ética sobre o comportamento sexual dos<br />

cristãos, que deveria ser seguida à risca. Esta normatização, no caso da Igreja Católica, é<br />

expressa pelo Direito Canônico, cujo órgão executor era o Tribunal da Santa Inquisição<br />

que julgava, entre outros, os crimes sexuais.<br />

A Igreja passa a condenar, deste modo, qualquer forma de prazer,<br />

principalmente se esse envolvesse práticas homossexuais. Para os heterossexuais o<br />

mandamento era este: “mas, se não podem guardar a continência, casem-se, pois é<br />

melhor casar do que arder em concupiscência. (1 Cor, 7,9). A infração àquele interdito,<br />

quando detectada, ou denunciada, sujeitava os transgressores a punições que variavam<br />

quanto aos níveis de rigor, podendo ir de penitências rigorosas até a morte. Como<br />

exemplo, podemos citar a perseguição sofrida por Joana D’Arc (1412-31), muito<br />

significativa do ponto de vista da história da opressão à homossexualidade. Ela foi<br />

acusada, além de bruxaria e crimes políticos, de prática sexual nefanda, pelo simples<br />

fato de usar roupas masculinas. Quando, após juramento, ela voltou a utilizar tais vestes,<br />

foi executada pelas autoridades. Os chamados processos de bruxaria prosseguiram por<br />

muitos anos, mesmo depois do final da Inquisição. Os movimentos de reformulação<br />

protestante deram continuidade ao movimento de caça às “bruxas”. Um fato que<br />

exemplifica a opressão na Idade Média é a perseguição que a classe feudal, apoiada pela<br />

Igreja, dirigiu ao homossexualismo, que atingiu estágios tão radicais que até hoje<br />

marcam os discursos e a intolerância homofóbicas. Contudo, salientamos que<br />

é impossível viver sem ao menos a perspectiva do prazer. Até<br />

mesmo os cristãos que inauguraram no mundo ocidental a apologia<br />

da dor e do sofrimento como bases para uma felicidade futura, a<br />

ideia do prazer é indispensável, uma vez que eles esperam um dia<br />

“gozar as delícias eternas celestiais” (NUNES FILHO, 1997,<br />

p.103).<br />

Já no século XIX, os praticantes da homossexualidade foram incluídos numa<br />

nova categoria de indivíduos, pois neste momento as sexualidades periféricas foram<br />

incluídas nomeadas e classificadas como perversões. A homogenitalidade que até então<br />

era considerada como algo circunstancial, ligado às diversas manifestações da<br />

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