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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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A estética naturalista, apoiada por estas teorias e buscando copiar os fatos da<br />

forma mais próxima à realidade, utilizou tais ideias ao retratar o preconceito racial em<br />

diversas de suas obras literárias. Em Bom-Crioulo, a questão do preconceito racial do<br />

branco contra o negro e do preconceito sexual do heteronormativo contra a<br />

homossexualidade são inoculados metaforicamente pelo narrador no personagem-título,<br />

de modo que esse reitere as questões de rejeição ao “mestiço”. Na trama, o negro<br />

Amaro é visto por sua genealogia como estereótipo de crueldade, devassidão e<br />

bestialidade no que se refere a sua prática sexual. Assim, vemos que a escola naturalista,<br />

ao apoiar-se em uma classificação estereotipada a serviço da ideologia do branco<br />

europeu, tenta desproblematizar questões advindas do campo da discussão racial e<br />

sexual. Deste modo, o Naturalismo, ao se servir de tal corrente teórica para explicar os<br />

comportamentos de seus personagens, tenta tornar o próprio modus vivendi do seu<br />

personagen-título em algo pré-fabricado, o que é algo inconcebível quando se trata de<br />

comportamento humano.<br />

Amaro é um representante da raça negra explorada e inferiorizada por fazer<br />

parte do grupo dos ditos povos inferiores e que precisavam usufruir das benesses do<br />

colonizador em seu processo integrativo/educativo. Contudo, percebemos que através<br />

da voz narrativa se percebe que o texto não se encontra livre dos preconceitos raciais da<br />

época de sua elaboração. Bom-Crioulo sofre a projeção de tais discriminações,<br />

revelando o racismo cruel arraigado e declarado no mundo colonial, reforçado pelas<br />

teorias cientificistas europeias sobre a raça humana a serviço do colonizador na tentativa<br />

de se auto-afirmar perante seu oposto. Assim, o negro no romance é visto segundo o<br />

ponto de vista projetado para este pelo colonizador europeu, pois “a semelhança de um<br />

ventríloquo, o autor branco” fazia falar “um negro que imaginava existir e desejava<br />

confirmar” (GOMES, 1988, p.17). Portanto, percebe-se que era quase impossível<br />

encontrar sinais de sucesso e realização atrelados a personagens negros criados por<br />

autores brancos em textos produzidos por esses últimos naquele período e contexto<br />

históricos.<br />

Assim, vários estereótipos negativos sobre os negros podem ser facilmente<br />

observados em nossa literatura. Na verdade, a maioria deles foi elaborada sob o viés do<br />

olhar preconceituoso do colonizador, pois a sociedade brasileira estava submetida a uma<br />

visão etnocêntrica branca e elitista e se espelhava nesse padrão como modelo para o<br />

país. Bom-Crioulo nascera para o trabalho pesado, recebendo justamente este epíteto<br />

por ser um homem negro e tido como de bom coração. Seria “bom”, aos olhos dos<br />

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