ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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o casal homossexual – Amaro/Aleixo - residia, entre tantas outras descrições, desvelam<br />
o universo que circunda e aprisiona os personagens e que os impede de atingir o grau de<br />
inclusão na dita "civilização”.<br />
O crítico Massaud Moisés sai em defesa do romance de maneira deveras<br />
pertinente e sagaz, pois discordando de diversos ensaios críticos que desacreditavam a<br />
obra afirma: “Adolfo Caminha soube desenvolver com sóbria mestria tema dos mais<br />
escabrosos” (MOISÉS, 1984, p.63). Aqui, podemos observar que este crítico defende o<br />
romance por esse trazer a marca da transgressão sexual no agir de seus personagens, já<br />
que o termo “escabroso” em nosso léxico é um adjetivo que significa: “oposto às<br />
conveniências ou ao decoro” (HOLLANDA, 1966, p.482). Da citação, observamos que<br />
a nomeação de “tema escabroso”, para os papeis sexuais marginais dos personagens<br />
desenvolvidos ao longo da trama, está diretamente associado ao incomodo que este<br />
causava em um mundo conservador heterossexual, patriarcal e cristão. Na verdade, a<br />
ideia de pecado e vício, que acompanhava as questões ligadas às práticas sexuais não<br />
heterossexuais nas sociedades provincianas como era a nossa, não só escandalizava a<br />
crítica, mas também toda a sociedade. O mesmo crítico destaca ainda, de maneira<br />
positiva, que o autor, “dono de uma prosa incisiva, vigorosa e fluente atentou para a<br />
pintura de personagens e cenas de ambiente, com isso superando a estreiteza do<br />
naturalismo” (MOISÉS, 1984, p.63).<br />
Sânzio Azevedo, pesquisador meticuloso da obra de Caminha, acredita que<br />
“foram as cenas de homossexualismo (...) que causaram a indignação de críticos não só<br />
seus contemporâneos, como até de nossos dias” (AZEVEDO, 1999, p.112). Nesse<br />
crítico podemos observar análises que, de fato, indicam maior profundidade na leitura<br />
do romance, já que aquele evita os olhares repletos de provincianismos e preconceitos<br />
de certos críticos rotuladores ou manipuladores da arte. Este pesquisador, em sua<br />
introdução à publicação do romance Bom-Crioulo, intitulada “Um romance ousado”,<br />
tece comparações entre as escolas literárias ao afirmar que “enquanto os realistas, para<br />
fugir ao idealismo dos românticos, pintavam a vida sem embelezamento, mas sem<br />
descer a pormenores chocantes, os naturalistas buscavam justamente as cenas mais<br />
deprimentes e não evitavam a descrição da alcova, assim como gostavam de enfocar<br />
casos de enfermidade” (AZEVEDO, 2001, p.3). Em Bom-Crioulo, as descrições<br />
minuciosas da alcova, pelo narrador, querem nos mostrar que o exílio forçado do casal<br />
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