ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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século XIX era o seguinte: se Portugal - país colonizador em decadência - e Brasil -<br />
nação emergente - não pretendem perder o trem que os conduzirá mais celeremente à<br />
civilização, devem banir negros, híbridos e homossexuais, pois estes não atendem às<br />
expectativas civilizatórias.<br />
Do explicado nos dois parágrafos anteriores, vemos que os narradores,<br />
apesar algum modo condenar a homossexualidade, o hibridismo e o negro nos dois<br />
romances, abrem um leque para o estudo das masculinidades marcadas negativamente<br />
(questões de gênero), já que a vivência do “amor que não ousa dizer seu nome” pelos<br />
personagens-título, tanto no romance português como no romance brasileiro, também<br />
insinua que “a homossexualidade se mostra como lócus de transgressão e de recriação<br />
da dicotomia homem/mulher, que é o gênero propriamente dito, portanto se configura<br />
num tema importante” (MONTEIRO, 1997, p.1). As análises comprovam que as<br />
diversas formas de manifestações das masculinidades não canônicas descentralizam<br />
qualquer forma de sexualidade naturalizada como universal. As mais variadas formas de<br />
desejo, que perpassam tanto O Barão de Lavos como Bom-Crioulo, não podem só ser<br />
explicadas pelo binarismo criado para sustentar a heterossexualidade compulsória.<br />
Assim, em função de um maior equilíbrio entre as diversas categorias de sujeitos e suas<br />
múltiplas performances “a formulação binária do sexo tem de se fragmentar e proliferar<br />
até o ponto em que o próprio binário seja revelado como contingente” (BUTLER, 2010,<br />
p.171). Na realidade, os desejos múltiplos e suas performances em direção aos objetos<br />
do desejo em muito extrapolam as fronteiras da heteronormatividade, ao mesmo tempo<br />
em que criam para si um entre-lugar nas questões referentes ao gênero.<br />
195<br />
é necessário empreender uma mudança epistemológica que<br />
efetivamente rompa com a lógica binária e com seus efeitos: a<br />
hierarquia, a classificação, a dominação e a exclusão. Uma<br />
abordagem desconstrutiva permitiria compreender a<br />
heterossexualidade e a homossexualidade como interdependentes,<br />
como mutuamente necessárias e como integrantes de um mesmo<br />
quadro de referências. (LOURO, 2004, p. 45)<br />
Nas duas tramas, os personagens, transitam em múltiplos entre-lugares,<br />
variando estes de feminilizados a masculinizados, dependendo de suas performances<br />
sexuais. Se estes são desejados como passivos, são feminilizados; se seus desejos<br />
impõem uma prática sexual ativa, são transformados em indivíduos masculinizados.<br />
Toda esta gama de performances é referendada por rígidos códigos atrelados ao