ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pretendem, em suma, é ampliar a discussão da questão, partindo do pressuposto de que<br />
toda prática sexual, seja heterossexual, homossexual ou bissexual , pode, muitas vezes,<br />
estar baseada na exploração econômica; norteada pela exploração dos excluídos<br />
econômicos que cedem aos apelos sexuais dos pertencentes às classes sociais mais<br />
aquinhoadas. Contudo, a questão pontual da prática sexual homogenital nos romances<br />
estudados está, segundo os narradores, associada diretamente à herança genética de seus<br />
personagens-título, que se utilizam do seu poder econômico como atalho para exercitar<br />
suas patologias e atingir seus objetivos sexuais.<br />
Nossos protagonistas: O Barão de Lavos e Bom-Crioulo, mesmo tendo suas<br />
práticas sexuais marcadas negativamente dentro da ótica da heteronormatividade<br />
compulsória, agem diversas vezes como sujeitos de seus desejos, ainda que, segundo<br />
seus narradores, os agires deles sejam determinados por suas respectivas genealogias e<br />
não pelas possibilidades que o livre-arbítrio lhes oferece. Deste modo, eles colocam em<br />
xeque, supostamente impulsionados por suas cargas genéticas negativas, o modelo<br />
naturalizado da heteronormatividade. No comportamento destes podemos ler que “o<br />
praticante da desconstrução trabalha dentro dos termos do sistema, mas de modo a<br />
rompê-lo” (CULLER, 1997, p.100).<br />
Na se pode deixar de destacar nas tramas as relações heterossexuais dos<br />
jovens amantes dos personagens-título com mulheres mais velhas, perfazendo, assim,<br />
triângulos amorosos. A formação desses é basilar para o desenvolvimento das diegeses.<br />
A presença de amantes femininas nos romances serve para respaldar a identidade<br />
masculina em sua necessidade de conquista como ponto de demarcação para<br />
salvaguardar socialmente os bastiões culturais do patriarcado. Essas presenças também<br />
podem ser analisadas como um reforço ao binarismo que rege as questões de gênero.<br />
“Apesar de construir sua identidade em oposição à mulher, daquilo que ela representa e<br />
daquilo que ele pode fazer, é através da mulher que o homem, constantemente, prova<br />
sua masculinidade” (MUSSKOPF, 2005, p. 85-86). As variadas performances no<br />
campo sexual dos personagens destes romances demonstram que as flutuações dos<br />
desejos extrapolam o mito cultural criado pela heteronormatividade e, nos apontam que<br />
estes são bem menos previsíveis do que se imagina.<br />
Conforme mencionado, na narrativa de Botelho, o triângulo amoroso é<br />
formado pelo barão, o efebo e a esposa do barão, Elvira. No início do romance, o<br />
narrador nos apresenta D. Sebastião procurando inescrupulosamente jovens, para sua<br />
satisfação sexual, em frente a um circo em Lisboa. Lá, o barão encontra Eugênio e, com<br />
128