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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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meio de socialização das normas impostas. Deste modo, esses espaços urbanos tornam-<br />

se propícios para o trânsito de diversas manifestações das individualidades.<br />

Com a diversidade de seus modos de vida, seus lazeres, suas<br />

facilidades de contato, as possibilidades que oferece de levar uma<br />

vida relativamente anônima e de poder compartilhar, sem<br />

dificuldade, as diferentes esferas da vida social, a cidade é o lugar<br />

ótimo para o desenvolvimento de uma tendência homossexual.<br />

(POLLACK, 1990, p.28)<br />

Mesmo que muitas tendências individuais possam ser exteriorizadas nas<br />

grandes cidades, inclusive aquelas ligadas às sexualidades marginais, essas continuam a<br />

circular perifericamente, em oposição e em torno do campo da sexualidade<br />

heteronormativa. Como essa é o centro nas culturas ocidentais, aquelas são consideradas<br />

deuterocanônicas, já que a categoria heterossexual é aquela que determina os valores<br />

positivos nos mais diversos espaços, inclusive naqueles microterritórios urbanos em que<br />

são exigidos o anonimato de seus freqüentadores. Nestes lugares, em que inúmeras<br />

relações são perpetradas, movimentam-se os indivíduos marginalizados, procurando<br />

tipos com os quais possam se identificar e nos quais e com os quais possam se ver<br />

espelhados, justificando suas próprias identidades. Deste modo, “os sujeitos orientados<br />

para o mesmo sexo constroem uma geografia de possibilidades de expressão dos<br />

desejos e espontaneidades homoeróticas, unindo localizações de níveis variados de<br />

velação e revelação dessas espontaneidades, interagindo sutilmente em espaços públicos<br />

a fim de exercer tais desejos. (COSTA, 2010, p. 30).<br />

No romance de Caminha, o Rio de Janeiro é retratado como residência da<br />

Corte e local para o qual convergiam indivíduos de diversos rincões do Brasil. Essa<br />

migração se fazia devido aos diversos atrativos que a capital brasileira e sua maior<br />

cidade ofereciam. Nela circulavam diversos segmentos sociais, entre eles, muitos negros<br />

livres ou fugitivos - segmento social marginal no Brasil escravagista -, que se<br />

apresentavam como alforriados devido a sua maneira de vestir e calçar com certo<br />

esmero. É neste espaço, exatamente na base naval e local de treinamento da Marinha<br />

Imperial Brasileira, que Bom-Crioulo se refugia quando foge da fazenda de café, onde<br />

era escravo. E é nesta mesma cidade que, no desenrolar do romance, vamos encontrar<br />

esse personagem-título de Adolfo Caminha - Bom-Crioulo, morando “como marido e<br />

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