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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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nos mais diversos manuais de literatura, ensaios publicados em revistas, livros,<br />

periódicos. Na verdade, as críticas sobre a obra de Caminha surgem a partir da<br />

publicação de A normalista, no momento mais alto da reação simbolista ao naturalismo,<br />

justamente entre os anos de 1893 e 1894. A despeito de algumas críticas favoráveis, em<br />

sua maioria os críticos receberam este romance com muitas “farpas”. Neste sentido<br />

Adolfo Caminha, em defesa daquele, escreveu o seguinte:<br />

Se A Normalista é um livro imoral, cuja circulação deve limitar-se a<br />

um certo e determinado grupo de leitores, então o que direi dos<br />

romances de Aluísio Azevedo? Que não devem ter entrada sequer<br />

nas bibliotecas públicas? Neste caso, e com muito mais forte razão,<br />

a Carne, de Júlio Ribeiro, deveria ser queimado solenemente<br />

perante um conselho de jesuítas...<br />

É a eterna questão que levou Madame Bovary aos tribunais,<br />

Madame Bovary, esse código da nova arte, segundo Zola.<br />

A crítica finge ignorar uma coisa: que todo escritor naturalista<br />

verdadeiramente digno desse nome, admite que o injuriem por todos<br />

os modos, contanto que não o chamem de imoral (CAMINHA,<br />

1999, p. 73-74).<br />

No caso específico do romance Bom-Crioulo, sabe-se que, à época de seu<br />

lançamento, houve um grande escândalo nas forças armadas, principalmente na<br />

marinha, já que o tema tratado na narrativa desnudava a extrema violência e a<br />

homossexualidade que grassava na Marinha Imperial Brasileira. Segundo Sânzio de<br />

Azevedo (1999), o alvoroço foi tão grande que Caminha sentiu necessidade de sair em<br />

defesa de seu Bom-Crioulo: ““não é obra para se dar prêmio nas escolas”. Continua<br />

afirmando que se a crítica “ingênua e pudibunda” visse as gravuras que ilustram o<br />

volume de Tardieu que ele tinha em sua estante, “não sei que gestos de náusea faria,<br />

cobrindo o rosto com a mão em leque””. (CAMINHA apud. AZEVEDO, 1999, p.124).<br />

Na defesa de Caminha, em relação aos seus romances torna-se patente que a inquietude<br />

do autor não vinha só das críticas à sua obra, mas, sim, em ter certeza que este incisivo<br />

ataque estava diretamente associado às mordazes críticas ao Naturalismo. Segundo<br />

AZEVEDO (1999, p.122), o crítico Valentim Magalhães, assinando “V.M., A Notícia,<br />

do Rio, publicou em 20 de novembro de 1895,” afirma:<br />

“Bom-Crioulo “é um inconsciente, por obcecação literária ou<br />

perversão moral”, diz o crítico: “Só assim se pode explicar o fato de<br />

haver ele achado literário tal assunto, de ter julgado que a história<br />

dos vícios bestiais de um marinheiro negro e boçal pode ser<br />

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