ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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INTRODUÇÃO<br />
Os valores culturais que muitas vezes imputamos à realidade estão<br />
circunscritos aos muros que construímos ou foram erguidos durante nossa existência.<br />
Na verdade, somos seres relacionais, frutos da história e agregados a uma determinada<br />
cultura, o que tanto pode limitar como ampliar nosso conhecimento de mundo,<br />
dependendo de como nos posicionamos perante as ideologias e os ambientes que nos<br />
envolvem com seus incontáveis tentáculos. Seguindo esta linha de raciocínio, um dos<br />
nossos objetivos no presente trabalho é demonstrar como as artimanhas do poder e da<br />
dominação estão engajados e a serviço de determinadas causas em períodos específicos<br />
da história. Na nossa pesquisa, este recorte está assentado e focaliza o final do século<br />
XIX e tem como suporte investigativo os romances naturalistas: O Barão de Lavos, do<br />
português Abel Botelho e Bom-Crioulo, do brasileiro Adolfo Caminha. Nossa escolha<br />
por estas narrativas partiu do princípio de que ambas estão inseridas nos cânones<br />
literários de Portugal e do Brasil e são marcos do Naturalismo e também por serem<br />
consideradas vanguardistas, transgressoras e polêmicas quando de seus lançamentos,<br />
durante todo o século XX, sendo ainda hoje, na primeira década do XXI, apontadas<br />
como narrativas provocativas. Exatamente por estes motivos, por essas incessantes<br />
problematizações que são trazidas à tona nos dois romances, é que somos inseridos num<br />
amplo e fértil campo de leitura, análise e discussão, mesmo que em diversos momentos<br />
nossas lentes de pesquisador possam estar obnubiladas pela cultura em que fomos<br />
construídos.<br />
Cientes dos nossos limites, enquanto sujeitos históricos, buscamos suportes<br />
em teóricos da literatura, das ciências sociais, da história, além de outros campos do<br />
conhecimento para fundamentar nossa compreensão das diegeses envolvidas na<br />
pesquisa. Disfarçadamente ou não, essas serviam de sustentação a determinadas<br />
ideologias que emergem nas tramas, tornando as próprias narrativas campos para que se<br />
desvelem incomensuráveis possibilidades investigativas. Contudo, não perderemos de<br />
vista o fato de que as próprias narrativas selecionadas para nosso corpus carregam em<br />
seu bojo e nos oferecem os matizes do que pretendemos discutir, um literário em<br />
diálogo com o contexto social e cultural dos dois países em que ocorreram as<br />
produções.<br />
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