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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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da narrativa, mesmo que essas estejam encobertas pelo sistema de representação do<br />

discurso cultural hegemônico que imputa a heteronormatividade como marcador<br />

naturalizado como universal.<br />

A partir deste descolamento, além da fronteira demarcada pela<br />

heteronormatividade, o Barão e Eugênio põem em xeque os conceitos de identidade fixa<br />

e, ao mesmo tempo, questionam o modelo padronizado de macho centrado em única<br />

performance sexual. Como transgressores, eles subvertem os padrões da<br />

heterossexualidade. Contudo, isto “não implica, como se poderia imaginar, o colapso<br />

destas estruturas binárias ou dos seus efeitos ideológicos” (SEDWICK, 2003, p.9).<br />

Mesmo assim, nos seus “descompassos” o Barão e seu amante demonstram que a<br />

economia erótica perpassa por diversos caminhos, ultrapassando os limites das questões<br />

ligadas ao exercício do desejo sexual atreladas ao gênero, às identidades pré-fixadas e<br />

supostamente naturalizadas. Deste modo, aqueles, apesar de estarem sob a égide de<br />

uma cultura patrilinear e burguesa, permitem que, de alguma maneira, possam aflorar,<br />

em si mesmos, diversas performances no campo do exercício de suas sexualidades.<br />

Observemos como o narrador descreve o livre trânsito performático do barão em sua<br />

busca de prazer:<br />

104<br />

Ao mesmo tempo, a porção de feminilidade subjacente neste<br />

ascoente epílogo de raça, fizera explosão por completo. Ansiava o<br />

barão por entregar-se. Queria de força realizar as abjectas<br />

imaginações, as execráveis quimeras que, de berço, lhe arranhavam<br />

a sensualidade. A perversão do sentido genésico ganhara por fim o<br />

ascendente. Por isso agora a circuitagem de noctívago do barão não<br />

coleava tanto de volta dos efebos, como em roda dos tipos de<br />

músculo e de força, dos marujos, dos militares e dos cocheiros. (BL,<br />

p.394)<br />

O Barão, como personagem-título, e Eugênio, como amante do barão, ao<br />

desbravarem fronteiras no campo das masculinidades, ao ultrapassarem as fronteiras<br />

demarcadas pela cultura heteronormativa e viverem desejos interditos, impróprios do<br />

sistema sexual reprodutor em que se baseia a civilização burguesa, abrem espaços para<br />

desejos outros que não só aqueles legitimados pela heteronormatividade. As variáveis<br />

práticas eróticas deles “transmigram sem licença nas fronteiras do gênero” (PITA, 2003,<br />

p.15), fazendo com que suas performances problematizem o aparato que sustenta a<br />

heterossexualidade como fonte basilar da civilização ocidental. Deste modo, os<br />

(des)caminhos dos prazeres sexuais do barão e de Eugênio, vistos como patológicos

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