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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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qual os personagens da obra são tripulantes. Vemos na voz do narrador que a frota de<br />

nossa marinha mercante só se deslocava quando os ventos sopravam a favor dela. O que<br />

poderia justificar um país, como todo seu comércio voltado para o mar e com um litoral<br />

imenso, não dispor de navios adequados à exploração marítima? Incompetência. A<br />

abertura para o mar, no século XIX, era visto como condição imprescindível para<br />

qualquer país que quisesse se desenvolver, já que o processo da conquista de territórios,<br />

através da expansão marítima era a fonte principal das riquezas adquiridas pelos países<br />

imperialistas. Muitos dos navios de Sua Majestade Imperial brasileira, em plena<br />

efervescência da Era Industrial, utilizavam, ainda, velas nos seus deslocamentos pelos<br />

mares. A incipiência da navegação brasileira, ironicamente, pode ser vista na narrativa<br />

no momento em que a fragata da marinha imperial brasileira cruza com um navio a<br />

vapor da marinha imperial inglesa.<br />

Os governos monárquicos de Portugal e do Brasil, incapazes de gerir<br />

modernamente suas nações, não conseguem que seus países entrem tanto na Era<br />

Industrial como no rol de países colonizadores. Portugal, porque se tornara um país<br />

pobre e endividado, não consegue explorar suas colônias, ou seja, o que restou do<br />

império colonial português, que um dia estivera presente no Atlântico, Índico e Pacífico<br />

e o Brasil há pouco mais de meio século independente, não conseguira deslanchar como<br />

país totalmente livre economicamente, devido a má administrtação. A descapitalização e<br />

os altos juros pagos aos países industrializados pelos empréstimos tomados,<br />

principalmente a Inglaterra, abortam no nascedouro qualquer projeto<br />

desenvolvimentista em Portugal e no Brasil.<br />

Em O Barão de Lavos, o personagem-título desponta como metáfora da<br />

decrépita monarquia e, a infertilidade do barão aponta simbolicamente para o regime<br />

monárquico que cambaleava e vivia seus últimos momentos. Se da relação dele com sua<br />

esposa D. Elvira não houvera descendente, muito menos da relação homogenital<br />

daquele com seu amante Eugênio haveria. Mesmo da relação entre a esposa do barão e<br />

do amante deste, não há filhos. Portugal era, segundo a metáfora do narrador, um país<br />

fadado a autofagia. A “esterilidade” da nobreza estava se propagando para toda a nação<br />

e, por conseguinte, estava ameaçando Portugal, enquanto país livre e soberano devido às<br />

ingerências estrangeiras, principalmente da gananciosa Inglaterra. Este ponto de vista<br />

demonstra que, se uma nação tem como líder um governo descomprometido com os<br />

ideais de grandeza de seu povo, tende a desaparecer. O barão, como metáfora desta<br />

monarquia caduca, é mostrado na sequência da narrativa sem meios para sua<br />

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