ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Deste modo, nossas análises desvelam que em O Barão de Lavos e em<br />
Bom-Crioulo as tentativas de marginalização das ações perpetradas pelos personagens<br />
dos romances partem do princípio de controle dos sujeitos transgressores. Colocá-los à<br />
margem dos processos que regulavam o social, político e econômico daquele período,<br />
objetivava defender os interesses dos países centrais. Segundo o pensamento exposto<br />
nestes romances naturalistas, tanto o homossexual como aqueles advindos das misturas<br />
raciais – negros e híbridos - já nasciam geneticamente marcados, negativamente<br />
estigmatizados. Por este motivo, os personagens-título dos romances devem, sob o<br />
prisma da causa colonial, ser banidos como forma de higienização sexual e purificação<br />
racial.<br />
Desta forma, as análises aqui desenvolvidas servirão também como mais<br />
uma avaliação crítica ao Naturalismo e nos ajudam a compreender mais acuradamente<br />
os processos de engajamento desencadeados nas literaturas dos respectivos países.<br />
Mesmo que já tenham sido desenvolvidos diversos trabalhos de atualização e<br />
reatualização dos romances que compõem nosso corpus, o que pode ser observado<br />
através da bibliografia criteriosamente selecionada por nós, é que nossas análises<br />
acrescentarão algo novo aos estudos realizados aqui no Brasil e lá em Portugal sobre os<br />
romances de Abel Botelho e o de Adolfo Caminha. Através da comparação que<br />
aproximará questões raciais, sexuais e contextual-históricas, acreditamos mostrar outro<br />
diálogo possível entre as culturas e os romances envolvidos. Pois sabemos que<br />
a literatura tem um papel particular a cumprir neste caso:<br />
diferentemente dos discursos religiosos, morais ou políticos, ela não<br />
formula um sistema de preceitos; por essa razão, escapa às censuras<br />
que se exercem sobre as teses formuladas de forma literal.<br />
(TODOROV, 2010, p.80)<br />
De algum modo, estes dois romances expõem, além das questões defendidas<br />
pela ciência, questões religiosas associadas ao patriarcalismo judaico-cristão. Nestes<br />
podem ser divisados argumentos que, de algum modo, defendiam a questão da<br />
perpetuação da espécie, as ideologias raciais, o desejo colonial, etc., de forma tanto<br />
aberta como dissimulada. Os textos, girando em torno da temática tão em voga no<br />
período do nosso recorte, tratam de assuntos que a maioria teima em manter no<br />
“armário”, definindo-os como letais à noção de “família” e, por contiguidade nefasto ao<br />
processo evolutivo civilizatório. Deste modo, ao trazer os dois romances à baila,<br />
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