10.10.2013 Views

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quanto aos padrões de comportamento social próprios da classe dominante, na sua<br />

pretensa moralidade de costumes (...)” (SODRÉ, 1965, p.231). Assim, as obras literárias<br />

do Naturalismo produzidas em solo brasileiro trazem como marca registrada as<br />

condições do meio e as questões raciais, sem, contudo, deixar o nosso aspecto político<br />

de lado, na elaboração do seu discurso baseado nos inconformismos, fruto dos grandes<br />

debates e transformações que aconteciam em nosso modelo social, político e econômico<br />

finissecular<br />

Mesmo havendo no Brasil inúmeros críticos contrários a este movimento,<br />

não se conseguiu impedir que os romances pertencentes ao Naturalismo ganhassem<br />

aceitação popular. O sucesso junto ao público adveio do anseio por novidades que<br />

acometia diversos setores da sociedade brasileira, que encontrava nestes temas uma<br />

válvula de escape para exorcizar suas mazelas. Tais romances “apimentados” em seus<br />

enredos e que falavam de sexo, adultério e homossexualidade espelhavam cruamente o<br />

cotidiano, mesmo que muitas vezes velado, de seres humanos que demonstravam<br />

dificuldade de se ajustarem a códigos morais muitos rígidos. Deste modo, ao retratar<br />

esta realidade “o romance naturalista criticado neste fim de século trouxe para o leitor<br />

brasileiro um ser humano provido de sangue, músculos e nervos”. (BRAYNER, 1973,<br />

p.26). Mas, o grande mérito desta escola foi fazer com que diversos valores morais,<br />

considerados tabus, pudessem circular em variadas camadas sociais do Brasil<br />

finissecular.<br />

Houve também vozes que saíram em defesa destes romances e que tentavam<br />

diminuir a acidez da crítica contrária ao Naturalismo. Entre eles podemos citar o que o<br />

próprio Adolfo Caminha, em sua Carta Literária, aponta em defesa de seus textos, dos<br />

de Zola e do próprio movimento naturalista.<br />

Sou contra a libidinagem literária e não perdoaria nunca o escritor<br />

que me viesse, por amor do escândalo, descrever cenas imorais,<br />

episódios eróticos a título de naturalismo.<br />

Mas, vamos: é preciso não confundir a verdade flagrante e<br />

necessária, reproduzida naturalmente, sem intuitos dissolventes,<br />

com a patifaria rasa, que dói nos ouvidos e faz saltar o sangue à face<br />

da burguesia.<br />

Zola, por maior que seja o número de seus inimigos, não é um<br />

romancista imoral.<br />

O próprio burguês, falto de argúcia filosófica, lê os romances do<br />

mestre a princípio talvez com certos receios, mas logo com um<br />

entusiasmo crescente, e, ao cabo da leitura, sente-se bem humorado,<br />

como saísse de um banho fresco; reconhece que lucrou alguma coisa<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!