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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Nos romances, mesmo que a homossexualidade continue sendo apresentada como crime<br />

e siga a tradição da cultura canonicamente estabelecida, observamos que Eros, mesmo<br />

numa cultura heterossexista judaico-cristã, pode até ser reprimido por algum tempo,<br />

mas, como o transgressor mor, luta constante e insistentemente por manifestar-se, seja<br />

aonde e como for. Desta ótica, vemos que Eros, por estar travestido de dogmas cristãos<br />

pelo narrador, exige que o barão e Amaro sejam castigados por causa de suas<br />

transgressões. Esta proposição pode ser constatada nas tramas, pois quando Dom<br />

Sebastião, em O Barão de Lavos e Amaro, em Bom-Crioulo adentram no usufruto dos<br />

prazeres da carne mais se aproximam de alguma forma de autodestruição social ou<br />

física, seja de si próprios, dos seus objetos do desejo, ou de ambos. O barão de Lavos é<br />

direcionado pelo narrador a se autodestruir; Bom-Crioulo sacrifica o objeto amado e<br />

morre socialmente.<br />

Aqui é necessário observarmos a questão das alegorias que permeiam as<br />

duas narrativas em relação aos dois personagens-título.<br />

134<br />

A onomástica é o estudo da significação dos nomes em um texto.<br />

Estes não são distribuídos ao acaso e contribuem na tessitura das<br />

redes semânticas dos romances (...). Assim, o nome designa as<br />

personagens, inscreve-as no universo social e no sistema de<br />

oposições do romance, condensa informações e simboliza atores.<br />

(REUTER, 2004, p. 177-178)<br />

Em defesa da questão da alegoria nestas duas narrativas em análise, também<br />

podemos justificar sua importância citando Antonio Candido, quando este em seu artigo<br />

“De Cortiço a Cortiço” faz a defesa da alegoria nos romances de Zola e de Azevedo:<br />

“talvez por influência de Zola nós a encontramos também nos de Aluísio, sendo em<br />

ambos os casos a meu ver, elemento de força e não de fraqueza” (CANDIDO, 2004,<br />

p.116). Esta afirmação, por contiguidade, também é verdadeira nas alegorias das<br />

narrativas de Botelho e de Caminha. Vejamos que a escolha do nome do personagem-<br />

título, no romance de Botelho, não foi aleatória, já que a escolha de Sebastião é<br />

ironicamente alegórica, pois sabemos que o santo cristão que carrega este nome morreu<br />

sacrificado em nome de sua fé em Cristo. O Sebastião de Botelho também morre em<br />

defesa de sua fé em Eros.<br />

Em Bom-Crioulo, o nome do personagem-título é Amaro. Epíteto esse, que<br />

dentro de si está inserido o verbo “amar”, referente àquele que é capaz de amar outrem,

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