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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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numa relação sexual, mesmo que esta fosse estabelecida entre iguais sexualmente, não<br />

era considerado anormal, pois estava exercendo um hábito inerente aos machos, dentro<br />

da cultura machista baseada na penetração. Está situação ainda persiste, no inconsciente<br />

da maioria dos homens, em plena alvorada do século XXI, já que serve de base à cultura<br />

patriarcal que perpassa o universo cultural do imaginário da maioria dos indivíduos.<br />

Na relação homoafetiva ocorre entre Amaro e Aleixo, na verdade, desde o<br />

primeiro momento da sedução e durante todo o jogo de prazeres vivenciado entre este<br />

par de iguais, Aleixo sente-se protegido e, literalmente sob o jugo de Amaro, perfazendo<br />

assim um jogo similar ao que existe na lógica entre o homem e a mulher. Desta forma, a<br />

lógica masculino/feminino e a lógica heterossexual/homossexual (um subjugando o<br />

outro) permanece na relação entre eles e a lógica homossexual da relação entre dois<br />

iguais não encontra espaço para ser viabilizada.<br />

110<br />

Uma cousa desgostava o grumete: os caprichos libertinos do outro.<br />

Porque Bom-Crioulo não se contentava em possuí-lo a qualquer<br />

hora do dia ou da noite, queria muito mais, obrigava-o a excessos,<br />

fazia dele um escravo, uma “mulher à-toa” propondo quanta<br />

extravagância lhe vinha à imaginação. (BC, p.38)<br />

Na passagem acima está óbvio o vínculo entre os jogos de poder da relação<br />

entre os dois homens, imbricada de erotismo, sedução e cobiça. Como afirmou Bataille<br />

e segundo o que se lê nas entrelinhas de Bom-Crioulo, “essencialmente, o campo do<br />

erotismo é o campo da violência, o campo da violação” (BATAILLE, 2004, p.27).<br />

Deste modo, os mecanismos de poder que perpassam as relações sociais, do qual não<br />

estão isoladas as relações erótico-sexuais, são aplicadas pelo narrador ao microcosmo<br />

em que estão inseridos os personagens do romance. Já que, “ao debruçar-mo-nos sobre<br />

a relação de erotismo e poder, devemos ter em conta, portanto, que o individual e o<br />

social estão interagindo no que cada um tem de mais específico” (FRANCONI, 1997,<br />

p.29). Deste modo podemos ler a relação representada entre Amaro e Aleixo em um<br />

contexto mais amplo, perpassando do espaço privado para o público. De qualquer<br />

modo, através do narrador naturalista, observamos que a relação entre os personagens<br />

da narrativa se forma dentro dos parâmetros sociais e culturais que privilegiam o macho.<br />

Amaro submete e “inferioriza” seu par afetivo-sexual Aleixo, repetindo o jogo sexual<br />

legitimado nas relações binárias que demarcam as questões de gênero.

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