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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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do narrador, acontece o mesmo com Aleixo, pois sua amante portuguesa serve como<br />

divisor de águas na sua trajetória de praticante da homossexualidade a neófito<br />

heterossexual. “- Se fosse possível não me encontrar mais, nunca mais, com aquele<br />

negro, ah! que felicidade! Pensava o grumete aproximando-se de um grupo de<br />

marinheiros, perto do cais. E a figura da portuguesa, muito gorda e risonha, os dentes<br />

muito alvos, os quadris largos, a face rubra dançava em sua imaginação, como um<br />

sonho diabólico” (BC, p.47). Mesmo que os dois narradores nos apresentem os<br />

personagens-título como herdeiros de patologias genéticas, o que esses realmente<br />

pretendem é estigmatizar negativamente os segmentos praticantes das masculinidades<br />

não legitimadas pela cultura judaica cristã ocidental.<br />

A idéia culturalmente difundida de que o “normal” é a heterossexualidade –<br />

saúde, vida - e de que a união entre pessoas do mesmo sexo é contranatural – doença,<br />

morte - foi difundido e chegou até nós ocidentais, através do atavismo cultural advindo<br />

das religiões monoteístas – judaísmo e cristianismo. Ultrapassar fronteiras deste<br />

atavismo cultural é cometer pecado contra a natureza e que leva o praticante à morte<br />

social e a autoexclusão dos privilégios que acompanham o macho dentro deste mundo<br />

patriarcal. A prova maior de que esta condenação é proveniente historicamente das<br />

religiões patriarcais e, que, por conseguinte, não deve ser vista como universal e natural,<br />

pode ser percebida nas diversas maneiras como a homossexualidade se desenvolve nas<br />

diversas culturas e mesmo como nosso grupo social se posiciona sobre esta prática em<br />

diversos momentos históricos.<br />

No romance de Botelho, o narrador, seguindo a tradição da cultura ocidental,<br />

nos mostra em seu discurso a prática homossexual como algo patológico, pois esta se<br />

afasta da prática naturalizada como positiva. Ao mesmo tempo, a homoafetividade<br />

também extrapola o exigido pela ciência como padrão de saúde física e mental. Assim, a<br />

homossexualidade, ao ser o lado oposto da normalidade, impõe ao seu praticante a<br />

alcunha de degenerado. O Barão, em sua sede de capturar para si o melhor momento do<br />

prazer sexual com jovens do rejeito social - sob os olhares no narrador -, respalda o<br />

modelo seguido pelos naturalistas. “Cada vez que o moço interpelado se afastava<br />

aborrecido ou indiferente, este noctívago caçador de efebos lá seguia em cata de outro,<br />

cortando os grupos, atravessando a rua, numa incoerência de vertigem, não se sabia bem<br />

se tiranizado por um vício secreto, se esmagado por uma feroz melancolia” (BL, p.9). O<br />

comportamento desviante do barão faz parte de um jogo marcado, ligado a todo um<br />

arcabouço discursivo e histórico que condena a homossexualidade. Esta patologia<br />

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