ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
estética naturalista, pois o barão, quando deixa aflorar seus pensamentos, adquire certa<br />
independência e autonomia, já que, neste momento de divagações, o narrador dá aval ao<br />
seu personagem-título - o barão - para que ele se desassujeite dos ditames naturalistas.<br />
Isso acontece porque “são tão intensas a “energia libertária” e a “atração pelo abismo”,<br />
experimentados pelo narrador, que ele não pode se livrar da teia de contradições e<br />
incoerências, no conflito estabelecido pelas necessidades impostas pelo desejo erótico e<br />
um violento impulso subjetivo de libertação das convenções sociais” (SOUZA<br />
JUNIOR, 2001, 114). Assim, o Barão, enquanto sujeito, em sua busca de prazer,<br />
apoiado pelas contradições do narrador, desmobiliza fronteiras fixadas pela cultura<br />
patriarcal. O mesmo acontece com Eugênio, amante do barão, quando transita em suas<br />
práticas sexuais entre homens e mulheres, como ativo ou passivo. Nas descobertas<br />
destas práticas sexualmente marginalizadas ele vai desconstruindo o mito do macho-<br />
ativo quando passa a concentrar em si diversas performances de exercício do desejo,<br />
principalmente aquelas auferidas pelo atavismo cultural como próprias de grupos<br />
considerados subjugados. Deste modo, a maneira que vai desempenhando diversos<br />
papeis sexuais ao longo da narrativa, o personagem-título e Eugênio problematizam o<br />
arcabouço que sustenta o binarismo. Tal ideia dialoga com pensadores contemporâneos<br />
e nos mostra que no ser humano nada é estável, mas cambiante; diversas performances<br />
são possíveis e factíveis.<br />
103<br />
Tornamo-nos conscientes de que o “pertencimento” e a “identidade”<br />
não têm a solidez de uma rocha, não garantem para toda a vida, são<br />
bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o<br />
próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como<br />
age – e a determinação de se manter firme a tudo isso – são fatores<br />
cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”.<br />
Em outras palavras, a idéia de “ter uma identidade” não vai ocorrer<br />
às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo seu destino,<br />
uma condição sem alternativa. (BAUMAN, 2005, p.17-18)<br />
O narrador, em Barão de Lavos, consegue problematizar a ideia de<br />
identidade fixa construída culturalmente para o macho como ativo tanto no personagem-<br />
principal como em Eugênio, amante dele. No romance, nos é mostrado que as<br />
identidades, dentro de uma sociedade em que o processo de socialização é cambiante,<br />
podem ser também flutuantes nas questões de gênero, raça, práticas sexuais, etc. As<br />
diversas performances do barão, principalmente aquelas ligadas as suas descobertas no<br />
exercício de sua homossexualidade, podem ser vistas em diversas manifestações dentro