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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Assim, observamos que os discursos científicos que tentavam impedir<br />

intercâmbio sexual entre as raças diferentes estavam a serviço do controle colonial do<br />

branco europeu em oposição às outras raças dominadas. Gobineau, em The inequality of<br />

human races, afirma que somente as raças puras poderiam ter uma vida social<br />

organizada culturalmente, de modo que pudessem atingir o estágio civilizatório.<br />

Vejamos a seguinte explicação de YOUNG (2005, p.131) sobre essa teoria:<br />

151<br />

A responsabilidade pela mistura do sangue é das raças brancas,<br />

porque estas é que são sexualmente atraídas por outras raças, ao<br />

passo que o espírito de repulsão mantém as raças amarelas e negras<br />

no seu estado de isolamento, sem chegar ao âmbito da civilização. A<br />

civilização, portanto, contém a sua própria e trágica falha, visto que<br />

as raças arianas se encontram compelidas, por um instinto<br />

civilizador, a misturar o seu sangue com aquelas mesmas raças que<br />

trarão sua derrocada.<br />

Da explanação, observamos que a base do discurso de Gobineau está<br />

diretamente associada à questão das relações heteroafetivas hegemônicas, em que todos<br />

não brancos e não cristãos são vistos por uma perspectiva que os inferioriza diante do<br />

patriarcalismo colonizador. Assim, todo o discurso colonial visa promover o masculino<br />

branco como dominador e tudo que não pertença a este mundo do segmento branco<br />

europeu é tornado feminizado e inferiorizado. Aliás, não só os não nativos são<br />

feminizados, o país, a geografia, a natureza, a terra do outro também o são. Para que<br />

possa se afirmar como dominante e possuidor, o colonizador sente necessidade de<br />

justapor sua masculinidade, feminilizando tudo que pertença ao colonizado. Todos esses<br />

elementos pertencentes ao dominado são metaforizados como “esposas”. A feminização<br />

destas categorias está inserida na categoria de gênero e tenta demonstrar as fragilidades<br />

dos dominados dentro do modelo patriarcal, que se mantém associado à custa de<br />

práticas que desprivilegiam as mulheres e tudo que for considerado estrangeiro ao<br />

mundo masculino e branco.<br />

Este discurso, que se baseia na feminização do dominado e tenta demonstrar<br />

a superioridade hierárquica do branco europeu perpassa, de fato, pela perspectiva de<br />

gênero e parte do ponto de vista do colonizador como provedor e dominador desejante,<br />

em detrimento do inferior colonizado, desejado e feminino. Deste modo, segundo<br />

Young em sua explicação sobre o desejo que perpassava o pensamento colonial, nada

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