ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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afirmação de Adolfo Caminha, quando, ao se sentir incomodado com a crítica<br />
inclemente, sai em defesa de seu romance, dizendo que Bom-Crioulo é “nada mais que<br />
um caso de inversão sexual estudado em Krafft-Ebing, em Moll, em Tardieu e nos<br />
livros de medicina legal” (CAMINHA, apud. AZEVEDO, 1999, p.123). Ele aponta aí a<br />
necessidade de discussão dos temas propostos, já que esses não eram invenções totais<br />
suas, e sim, tanto ocorrências em estudos médicos do período como parte da vida<br />
cotidiana que se desenrolava em torno dele. Não é a toa que, segundo DELEUZE (1985,<br />
p.159): “os autores naturalistas merecem a designação nietzscheana de médicos da<br />
civilização”.<br />
Com o passar dos anos, somaram-se críticas tanto positivas quanto negativas<br />
sobre Bom-Crioulo. Caminha, sem dúvida, fora um retardatário dentro da escola<br />
naturalista, fato este que, possivelmente, atrasou sua inclusão no rol dos melhores<br />
escritores do período. Conforme comenta Lúcia Miguel Pereira sobre o autor: “José<br />
Veríssimo nem lhe parece ter tomado conhecimento da existência, Sílvio Romero só de<br />
passagem o menciona” (MIGUEL-PEREIRA, 1960, p.8). Dentre as muitas críticas<br />
sobre o romance Bom-Crioulo ao longo dos tempos, algumas lhe fizeram justiça, como<br />
se percebe nas observações seguintes: “este livro, ousado na concepção e na execução,<br />
forte e dramático, humano e verdadeiro é, a despeito dos senões, apontado com o<br />
Cortiço, o ponto alto do Naturalismo” (MIGUEL-PEREIRA, 1973, p.173). Mendes,<br />
outro crítico literário, afirma que esse romance é “uma ruptura grave no tranquilo credo<br />
Naturalista de quem, à distância, descreve e explica o mundo através de categorias<br />
científicas claras e inequívocas” (MENDES, 2000, p.122). O crítico acrescenta ainda<br />
que o “Naturalismo de Adolfo Caminha, desse modo, avança sobre o apolíneo,<br />
contaminando-o, dando-lhe assim um corpo e uma sexualidade” (MENDES, 2000,<br />
p.188).<br />
A morte prematura de Caminha, aos trinta anos de idade, causada por uma<br />
tuberculose, é lamentada por vários estudiosos de sua obra, já que “privou a literatura<br />
brasileira de uma das mais sérias vocações de romancista que já surgiram entre nós”<br />
(MIGUEL-PEREIRA, 1973, p.168). No mesmo livro (p.173), encontramos ainda a<br />
afirmação de que especialmente em Bom-Crioulo fica patente e “mais alta e forte sua<br />
vocação (...)”, sendo que nestes romances Caminha se “revela romancista autêntico e<br />
livre”, fazendo-nos “lamentar a sua morte prematura”. A crítica ainda comenta que<br />
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