ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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separadamente estejamos trabalhando as duas narrativas isoladamente. O que<br />
pretendemos é pedagogicamente aplainar os caminhos para um melhor entendimento do<br />
trabalho.<br />
Diversos marcadores constitutivos da masculinidade, presentificados na<br />
cultura do final do século XIX, nos são apresentados ao longo do romance botelhiano.<br />
Desde as primeiras páginas, símbolos de segurança e poder masculinos tais como:<br />
chapéus, bengalas, cigarros, charutos, barba, bigode, duelos, etc., nos chamam atenção<br />
devido à incisiva presença destes como marcas inegáveis da representação do homem-<br />
macho finissecular. “Tocava-lhe a coxa com a bengala, como distraído; postava-se-lhe<br />
ao lado, fitando-os com o olhar seco e vítreo, persistente; soprava-lhes na nuca uma<br />
baforada” (BL, p.9). De acordo com Anne-Marie Sohn (2009), estes marcadores<br />
serviam como base de socialização da masculinidade. Eram verdadeiros rótulos e<br />
atestavam a virilidade, ao mesmo tempo em que demarcavam o lugar do masculino<br />
dentro do espaço hierárquico-social. A partir deste ponto de vista e com a<br />
demonstração do lugar do masculino, o narrador consegue traduzir simbolicamente<br />
como funcionava a supervalorização da demonstração da virilidade na imposição da<br />
dominação masculina. Esta virilidade, determinante do homem-masculino-macho, era<br />
sustentada por teorias advindas da biologia que, de acordo com a ciência do Oitocentos<br />
configurava o masculino como superior, e, que, ao mesmo tempo respaldava a<br />
dominação masculina no campo social como um prolongamento desta superioridade<br />
naturalizada.<br />
No olhar, dilatado e teimoso, duma secura inflamada e vítrea,<br />
fulgurava obstinação dum desejo; ao passo que na boca a brasa do<br />
charuto, numa febre de pequeninos movimentos bruscos, denotava<br />
que os lábios e as maxilas eram nervosamente sacudidos por uma<br />
forte preocupação animal. (BL, p. 8)<br />
Percebe-se, assim, que a questão da masculinidade finissecular não passava,<br />
apenas, pelo determinismo da questão biológica, mas por um conjunto de exigências<br />
culturais, que exigiam demonstração de enfrentamento e embate com o outro macho<br />
para demarcação de espaço ou território.<br />
Continuando o raciocínio, vemos que, até recentemente, mesmo na segunda<br />
metade do século XX, o cigarro e o bigode, e mesmos outros marcadores da<br />
masculinidade continuavam sendo usados por esta categoria, como suporte para<br />
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