ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
espaços de inclusões e de exclusões que “os sujeitos homoeróticos encontram<br />
oportunidades de expressão de autenticidades na apropriação de partes do espaço social,<br />
microterritorializando aquilo que é discriminado pela sociedade” (COSTA, 2010, p. 25).<br />
Deste modo, nestes espaços, uma rede de relações ímpares podia ser vistas nas questões<br />
referentes a vivências do privado, de modo que os indivíduos podiam gozar de certo<br />
grau de anonimato em suas diferentes práticas posicionadas como conflitivas em relação<br />
ao legalizado e ao legitimado. Estes locais demonstravam “uma aparente inclusão que,<br />
todavia é bastante operativa, na medida em que estabelece o contraste necessário para<br />
ressaltar o confinamento do pobre nos lugares menosprezados” (CANDIDO, 2004,<br />
p.47). O substantivo “pobre” na citação de Candido pode, muito bem, ser substituído<br />
por “os múltiplos segmentos marginalizados da urbanidade”, de modo a melhor situar a<br />
grande diversidade de divagantes que perambulam nos guetos ou mesmo por diversas<br />
partes das grandes cidades.<br />
Lisboa e Rio de Janeiro, como espaços agregadores de identidades instáveis<br />
e performances sexuais múltiplas, tornam-se lugares propícios em que diversos papeis<br />
sociais encontram chances concretas de aflorarem. Deste modo, estas cidades nas duas<br />
narrativas servem como<br />
lugar de fluxo constante de pessoas e objetos; é a sede da economia<br />
monetária, onde a dimensão econômica uniformiza os indivíduos e<br />
as coisas e determina relações e atitudes; é, também, uma estrutura<br />
impessoal, que se sobrepõe aos indivíduos indiferenciando-os. É<br />
ainda, o lugar da divisão econômica do trabalho, da especialização,<br />
da fragmentação e do rompimento com vínculos históricos<br />
tradicionais. (LEAL, 2002, p.20).<br />
Assim, as cidades tornam-se lugar de trânsito de grandes levas de indivíduos<br />
e, nas quais estes podem desfrutar de alguma autonomia, certa “liberdade e anonimato”,<br />
nas questões pertinentes às escolhas das suas vivências. Entretanto, estas escolhas no<br />
plano individual e privado não estão isentas das problematizações. Essas são<br />
provenientes dos conflitos que surgem a todo o momento nos processos de<br />
individuação, dentro de uma sociedade coercitiva e herdeira de valores burgueses e,<br />
através de uma cultura patrilinear, em que a masculinidade hegemônica é tecida por<br />
78