10.10.2013 Views

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

omance, o doentio e degenerado acentua-se de geração a geração, aumentando as<br />

patologias e levando, por conseguinte, o enfermo progressivamente à degradação. Em<br />

1895, Abel Botelho publica O Livro de Alda em que fala sobre a questão homossexual<br />

feminina; em 1901, edita Amanhã, em que debate a situação dos revolucionários<br />

trabalhadores lisboetas em suas lutas atreladas ao anarquismo e ao socialismo; em 1907,<br />

lança o Fatal Dilema, cujo tema base é o intercurso sexual entre parentes consaguíneos<br />

próximos. Próspero Fortuna, de 1910, encerra o ciclo, no qual mergulha seus<br />

personagens no mundo da decadência e da corrupção da classe política. Na Patologia<br />

Social botelhiana “está sempre a intenção combativa, antípoda da impassibilidade, mas<br />

os seus recursos artísticos são débeis, as cores carregadas, os processos esquemáticos”<br />

(SODRÉ, 1965, p.60).<br />

Seus romances seguem quase sem desvio os mandamentos canônicos da<br />

escola naturalista, mas neles, ao longo do tempo, podemos divisar que este escritor foi<br />

amenizando os exageros do Naturalismo. Se em O Barão de Lavos, Botelho trabalha a<br />

questão da degeneração genética, adquirida através da mistura das raças, da qual o<br />

personagem principal não podia se desvencilhar, nos romances seguintes,<br />

principalmente em Amanhã, ele vai trabalhar questões atreladas ao socialismo dos<br />

operários lisboetas. Nos romances publicados no início e no final de sua produção<br />

literária vê-se uma acentuada mudança nos termos expressos e no burilar do que produz.<br />

Enquanto nas primeiras produções vemos os apegos ao cientificismo e uma exagerada<br />

preocupação em poder retratar de maneira mais fiel a realidade circundante, nos últimos<br />

romances vemos que “as soluções de expressão sofrem visível aligeiramento, poetizam-<br />

se, adquirindo fluência de meios tons e transparência líquida” (MOISÉS, 1961, p.14).<br />

De modo que, se fizéssemos uma análise superficial, afirmaríamos que Abel Botelho,<br />

em sua obra, segue canonicamente os mandamentos do Naturalismo. Contudo, se<br />

continuarmos analisando na linha do tempo mais acuradamente suas produções,<br />

divisaremos que há amostras do afastamento das questões norteadoras do naturalismo<br />

cientificista. Nas narrativas posteriores a O Barão de Lavos aparece uma diminuição da<br />

“deformação do mundo operada pela concepção materialista e científica do Universo e<br />

do Homem” (MOISÉS, 1961, p.17).<br />

O conjunto de romances que formam a Patologia Social 3 , de Abel Botelho,<br />

no qual está incluído o Barão de Lavos, tenta retratar a degeneração da célula social nos<br />

3 A influência de Emile Durkheim (1858-1917) e seu raciocínio sobre fatos normais e patológicos podem<br />

ser visto no título desta obra de Abel Botelho. Esta questão do patológico, como fato social, se espalha<br />

35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!