ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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passivos sexualmente se situavam no mais baixo patamar da hierarquia romana.<br />
Também era recomendado que a união sexual entre um adulto e um jovem fosse<br />
rompida quando os primeiros sinais de barba surgissem. Nesta prática sexual de caráter<br />
homossexual havia um significado pedagógico, já que os jovens deveriam aprender a<br />
tornarem-se homens-cidadãos através do contato íntimo com os adultos do sexo<br />
masculino. Em todo o Império Romano havia cultos prestados ao membro viril<br />
masculino, inclusive foram encontrados em Pompéia vários desenhos de pênis em seus<br />
muros com a seguinte inscrição: Hic habitat felicitas. Traduzida do latim esta frase<br />
significa: aqui habita a felicidade, e se reporta diretamente ao membro sexual masculino<br />
ereto.<br />
A pedagogia homossexual, muito mais antiga do que em geral se<br />
acredita, aparece nas sociedades onde a virilidade tem um estatuto<br />
de valor moral absoluto, como assinala John Boswell; entre os<br />
povos antigos era comum dizer que os homens que amavam outros<br />
homens eram mais masculinos do que seus homólogos<br />
heterossexuais. E isso em nome do argumento lógico (que pode nos<br />
deixar céticos) de que os homens que amarem homens procurarão<br />
igualá-los e ser como eles, enquanto os que amarem mulheres se<br />
tornarão como elas, quer dizer, efeminados. (BADINTER, 1993,<br />
p.79)<br />
Deste modo, segundo Badinter, a homossexualidade nessas sociedades, de<br />
forma pedagógica, era tanto o portal de entrada que inseria o jovem ao mundo adulto,<br />
como era também necessária para o processo de construção da masculinidade. Vê-se,<br />
assim, que esta não dependia de um sentimento de identificação direta, mas sim era uma<br />
sabedoria transmitida por uma relação íntima e de iniciação contínua de geração a<br />
geração. A masculinidade era percebida como sendo transmitida literalmente nesse<br />
“corpo a corpo”, já que a pratica sexual servia de suporte para o jovem adquirir a<br />
almejada virilidade. “Da formação do guerreiro para o batalhão sagrado da antiga Tebas<br />
à formação do honesto cidadão ateniense, toda a educação masculina reservava um<br />
lugar importante à homossexualidade iniciática e pedagógica, que tinha peso de<br />
instituição” (BADINTER, 1993, p.81).<br />
Já em Roma, “muitos imperadores praticaram oficialmente a<br />
homossexualidade. Antínoo, favorito do sábio imperador Adriano, chegou a ser objeto<br />
de culto oficial, após sua morte precoce.” (BADINTER, 1993, p.79). A despeito de a<br />
homossexualidade e a degradação moral terem sido, segundo alguns historiadores, a<br />
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