ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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O narrador continua, nos capítulos seguintes, a sinalizar aspectos negativos<br />
como marcadores para os praticantes da homosexualidade. Ao expor seu ponto de vista<br />
construído dentro da cultura burguesa-judaico-cristã-ocidental, aquele concorre para<br />
transferir por osmose os desvios e vícios do Barão a todos os praticantes da<br />
homogenitalidade. Esta imposição advinha do pensamento do grupo dominante e era<br />
apoiada por teorias das desigualdades das raças humanas que vicejavam na época, que<br />
procurava catalogar como inferiores os segmentos não brancos, não europeus, não<br />
heterossexuais.<br />
A ciência, como era a portadora da última palavra, obrigava que até o desejo<br />
sexual fosse lastreado por ela e, ao mesmo tempo, seguisse seus ditames. Na verdade, a<br />
ciência apregoava que a homossexualidade era antinatural, patológica e abominável,<br />
algo orgânico que poderia muito bem ser catalogado. Deste modo, execrada em<br />
qualquer circunstância, então, estava pela ciência, senhora absoluta da verdade<br />
finissecular, a representação da paixão homogenital “O amor, o amor!... E o que é o<br />
amor, senão um egoísmo dos sentidos?... Abnegações, ideais, platonismo, êxtases... são<br />
outras quimeras. O amor é uma paixão puramente orgânica, toda animal e de instinto.”<br />
(BL, p. 336).<br />
Seguindo em nossa análise, há outro aspecto, mostrado no romance pelo<br />
narrador, que poderia ser entendido como uma aparente alegoria à questão pedagógica<br />
grega, na qual o mais velho – o Barão - seria o pedagogo em sua relação com o mais<br />
jovem – Eugênio.<br />
Depois, por altas horas almoçavam juntos. Almoço lauto. E então à<br />
mesa, demoradamente, o barão prosseguia na educação do amante.<br />
O garfo empunhava-se assim, a faca deste modo, e para ali o<br />
guardanapo, e o Bucelas era para o peixe, e nunca vertesse<br />
champagne em copos sem pé... Nunca dissesse “calhou”, mas<br />
“aconteceu”; nem “intrujice”, era melhor “espertalhonice”; nem<br />
“pinóias”, antes “meretrizes”; nem “pus-me na alheta, mas “safeime<br />
a tempo”. Nem chamasse aos municipais “guitas, nem “bufos”<br />
aos espiões. (BL, p.103)<br />
Ao contrário do que parece despontar no romance, essa não era uma questão<br />
inserida dentro dos moldes educativos, entre adultos e jovens, que havia na Grécia<br />
Antiga. Sabemos que tanto no mundo helênico como ainda em várias culturas nativas, o<br />
aprendizado da masculinidade, obrigatoriamente haveria de passar pedagogicamente<br />
pela etapa da prática homogenital. Por esse motivo, os jovens precisariam de um mentor<br />
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