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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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ausências, insinuando-se para Aleixo, que cede aos desejos dela, tornando-se seu<br />

amante. Amaro, a partir daquele acontecimento, passa a perder importância aos olhos do<br />

objeto amado. Aleixo, com a perda da virgindade, no que se refere ao terreno<br />

heterossexual, passa a ser, a partir de sua iniciação sexual com mulheres, nomeado, pela<br />

voz narrativa, com epítetos masculinos, já que passara a utilizar-se de seu membro viril,<br />

marca obsessiva da masculinidade hegemônica. Seu desejo, enquanto homem virilizado<br />

tomava agora “rumo certo” e assim, o narrador começa fazer comparações positivas,<br />

segundo os ditames da cultura heterocentrista, sobre ele. “O efebo teve um arranco de<br />

novilho excitado” (BC, p.46).<br />

Carola Bunda seduz o grumete e o possui, crendo que matara a<br />

homossexualidade dele. Na verdade, Aleixo é pura sensualidade, pois onde se<br />

encontrava causava reações de excitação. Ele se enche de garbo quando descobre em si<br />

um alto poder de sedução, pois além de conquistar homens, tinha também, a capacidade<br />

de conquistar e satisfazer sexualmente as mulheres. Este cruzar de fronteiras de Aleixo<br />

mostra que mesmo sendo a bissexualidade não inserida no campo das masculinidades<br />

hegemônicas, não se afasta do modelo binário no qual esta inserida. No que se refere ao<br />

campo biológico, Aleixo é homem; contudo, o grumete carrega consigo elementos do<br />

sexo oposto, o que o torna objeto do desejo de ambos os sexos. Livre da paixão<br />

exclusiva de Amaro e, consciente de seu potencial sedutor, Aleixo sonha ultrapassar os<br />

limites que o prendiam à pobreza. Seu interesse, a partir de então, passa a ser o de<br />

encontrar um homem rico que o sustente. O mercantilismo sexual encontrara em Aleixo<br />

um neófito.<br />

119<br />

Essa idéia penetrou-o como uma lembrança feliz, como um fluido<br />

esquisito que lhe inoculasse no sangue. – Podia encontrar algum<br />

homem de posição, de dinheiro; já agora estava acostumado<br />

“àquilo”... O próprio Bom-Crioulo dissera que não se reparavam<br />

essas coisas no Rio de Janeiro. Sim, que podia ele esperar de Bom-<br />

Crioulo? Nada, e, no entanto estava sacrificando a saúde, o corpo, a<br />

mocidade... ora não valia a pena! Saltou da cama e foi se vestindo<br />

devagar, assobiando baixinho, dominado por aquela idéia. – Estava<br />

aborrecido, muito aborrecido: precisava mudar de vida. (BC, p.43).<br />

Na mais alta hierarquia da marinha, bem como entre os subalternos, segundo<br />

as descrições e indicações do narrador em Bom-Crioulo, proliferavam relações<br />

homossexuais. Mesmo que isso só se manifeste às escondidas e nas fofocas em que se<br />

sugere que “falavam cousas” de um ou de outro membro do grupo (BC, p.54). Assim,

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