ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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pública. Assim, observamos que um discurso machista patriarcal com nuance<br />
colonialista desenvolve-se na relação entre estes amantes masculinos. Na verdade, a<br />
Eugênio - no romance, visto como o não emancipado, o fraco, o provido, o<br />
desprotegido, ou seja, aquele que não poderia ser senhor de sua própria liberdade –<br />
caberia, dentro do discurso heteronormativo colonial, a parte do colonizado e<br />
feminizado. Esta questão da feminização do outro inferiorizado é recorrente no discurso<br />
do colonizador. Neste, não apenas os colonizados, sejam homens ou mulheres, são<br />
feminizados, mas também sua paisagem, seu espaço geográfico, pois tudo e todos<br />
devem ali estar assujeitados ao poder do colonizador masculinizado provedor. A posse<br />
do barão sobre Eugênio pode ser simbolicamente lida como uma representação do poder<br />
e dos desejos coloniais.<br />
Deste modo, o romance O Barão de Lavos, espelhando as questões ligadas<br />
ao discurso colonial – mistura racial, homossexualidade e coboça colonial - faz adentrar<br />
ao campo da literatura finissecular essas discussões tão em voga em pleno alvorecer do<br />
XXI. Mesmo que estas, no romance, possam estar mascaradas aos olhos de alguns,<br />
entretanto elas não conseguem burlar olhares mais criteriosos, já que “todo<br />
conhecimento ocidental é, diretamente ou indiretamente, uma forma de discurso<br />
colonial.” (YOUNG, 2005, p.196), pois, como sabemos, esse se manifesta, de algum<br />
modo, disfarçado ou não, pois não deixa de ser cúmplice e estar a serviço das<br />
conveniências dos grupos dominadores.<br />
3.5 O racismo em Bom-Crioulo: a cor negra como marca da diferença<br />
171<br />
O mar é amargo e o marujo morre no mar.<br />
(Giovanni Verga, Os Malavoglia)<br />
Logo no início, o narrador nos induz a verificar que a questão racial será, ao<br />
lado da questão de gênero – masculinidades marcadas negativamente - o eixo sobre o<br />
qual estará assentada a narrativa. Percebemos já na descrição inicial da corveta que a<br />
cor branca desta estava aliada ao bom, ao novo, ao não-marcado, enquanto a cor negra e<br />
encardida estava associada ao marcado, ao nefasto, à morte, ao apocalíptico.