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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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ideologia reinante do “perigo negro”, pois, “o negro representou em um racismo<br />

brasileiro tanto o “outro” de quem se deveria proteger a sociedade (africano de origem,<br />

considerado menos humano ou nem isso), quanto um perigo no interior do próprio<br />

grupo principalmente por causa da idéia da miscigenação” (BELUCHE, 2008, p.102).<br />

Se o Brasil quisesse galgar o lugar de uma nação respeitada e seguidora da civilidade<br />

teria obrigatoriamente que fazer uma higienização racial, que automaticamente excluía<br />

o elemento negro. Embranquecer a raça seria o primeiro passo para ingressarmos puros<br />

na República que, segundo seus defensores, mais cedo ou mais tarde seria forma de<br />

governo em terras brasileiras. Homossexualizar o personagem-principal negro foi uma<br />

maneira assaz irônica que o narrador de Caminha encontrou para demonstrar tanto o<br />

pensamento da elite brasileira como a ideologia de Estado 18 , pois, na verdade “o<br />

objetivo do discurso colonial é apresentar o colonizado como uma população de tipos de<br />

degenerados com base na origem racial de modo a justificar a conquista e estabelecer<br />

sistemas de administração e instrução” (BHABHA, 2007, p.111). A apropriação da<br />

citação deste crítico, que trabalha questões do final do século XX e início XXI,<br />

demonstra que o discurso do final do Oitocentos seguia o mesmo viés, ou seja, servia<br />

tão somente de sustentação ao ponto de vista do colonizador, através do qual esse arvora<br />

a raça branca e hegemônica, da qual era e é representante, como balizadora e<br />

disseminadora da “civilização” pura e superior. Mas, na verdade, o que realmente este<br />

discurso queria e quer é conspurcar a imagem do colonizado e legitimar a rapinagem<br />

que os colonizadores faziam e fazem. Partimos, agora e com essas considerações em<br />

mente, para nossas conclusões sobre o que discutimos até aqui.<br />

18 “Segundo Nietzsche, portanto, o Estado é produto da violência dos mais fortes sobre os mais fracos, e<br />

não de qualquer processo contratual. O Estado é uma usurpação de direitos e não uma confraria de ideais.<br />

Ele não estabelece por consenso, mas pela espantosa tirania (NUNES FILHO, 1997, p.61).<br />

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