ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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1.5 Adolfo Caminha e o Naturalismo brasileiro<br />
Podemos verificar nos romances naturalistas que os escritores desta escola<br />
nos diversos países, onde esta encontrou condições de proliferar-se, tem a tendência de<br />
descortinar de modo incisivo o real. No Brasil, precisamente, o movimento se traveste<br />
de singularidades e, apesar da marcante influência francesa e portuguesa sobre ele,<br />
reflete a busca de nossa literatura em se afirmar e adquirir uma identidade própria.<br />
Vemos acentuado neste momento peculiar de nossa literatura,<br />
que os intelectuais e escritores da antiga colônia de Portugal<br />
começaram a tomar consciência da necessidade de se por em busca<br />
de uma identidade. Essa situação específica explica a insistência na<br />
indagação sobre o elemento “nacional” na produção literária e<br />
crítica brasileiras. (NITRINI, 2010, p.188)<br />
É dentro desta perspectiva do meio determinando o homem que surge no<br />
romance brasileiro, ou seja, sendo mais pontual, no romance naturalista, pela primeira<br />
vez, a presença de um negro e homossexual como personagem-título. O Naturalismo<br />
brasileiro, mesmo que tenha se utilizado do negro e do homossexual de maneira<br />
negativa em seus experimentos com grupos raciais e sexuais considerados inferiores ao<br />
hegemônico, branco e heterossexual, antecipa a presença destas categorias marginais<br />
como foco central em suas narrativas transgressoras. Ser negro e homossexual era por<br />
questão de hereditariedade, estar classificado inevitavelmente como pertencente à<br />
marginalidade, à exclusão, ao refugo social. No que se refere à presença do negro em<br />
nossa literatura, a condição basilar para que este fosse vinculado ao adjetivo bom ou de<br />
valor teria de passar pelo comportamento obediente, sem questionamentos em relação<br />
aos códigos inferidos pela hegemonia branca. O modelo do “negro bom” viabilizado em<br />
nossos romances só poderia acontecer também se fosse imputado nesse o clareamento<br />
da pele. Para o praticante da homogenitalidade, numa sociedade edificada dentro de<br />
normas fixas e ditatoriais de heteronormatividade, era impossível ser visto como “bom”.<br />
Portanto, ser um contumaz praticante da homossexualidade no século XIX era estar<br />
irreversivelmente afixado dentro do cânon heterocentrista como desviado e depravado.<br />
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