ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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o desenrolar da relação, aquele se apaixona pelo jovem, perde-se de si mesmo, descendo<br />
ao inferno que o opróbrio acarreta.<br />
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havia dois meses que D.Sebastião o amava, sempre com a mesma<br />
igualdade, a mesma sofreguidão, a mesma efervescência. Ao<br />
contrário do que lhe sucedera com muitos outros, a paixão por este<br />
rapaz mantinha-se inalterável, firme, resistindo aos caprichos<br />
daquela vontade titubeante. Era uma doentia obsessão, um amor<br />
estranho, dissolvente, enorme, duma acuidade que fazia sofrer. Um<br />
misto extravagante de submissão e de império, de adoração e de<br />
lascívia, que prendia o barão aquele indivíduo do mesmo sexo por<br />
laços mais poderosos do que quantos nos serve a História como<br />
exemplo de ligação admirável entre homem e mulher. (BL, p.95)<br />
A trama se complica, anunciando uma tragédia eminente, quando a esposa<br />
do barão, seduzida pelo jovem Eugênio, se apaixona por este. A desesperada paixão do<br />
personagem-título pelo amante e a descoberta da dupla traição conduz D. Sebastião a<br />
apagar em sua vida todos os níveis de decência pequeno-burguesa e o conduz numa<br />
espiral descendente de degradação que o leva à sarjeta.<br />
A partir da tomada de consciência de seu poder de sedutor tanto sobre o<br />
barão como sobre Elvira, esposa deste, o jovem amante - um exímio cínico e perdulário<br />
- passa a explorar a ambos. Sobem os gastos do barão e da baronesa na tentativa de<br />
segurar o amante. Isto faz com que o barão e a esposa completem em suas vidas as três<br />
fases que a condição humana, na lógica cristã, pode vivenciar: céu, purgatório e inferno.<br />
Na verdade, a relação com Eugênio, prazerosa no início, leva-os posteriormente à ruína<br />
financeira e, consequentemente, à decadência moral. Quando o barão descobre que é<br />
duplamente traído, termina seu casamento de conveniência e sua desenfreada paixão<br />
homossexual. O barão que, segundo o narrador, já era, por sua gênese bastarda,<br />
propenso ao desregramento, atinge com a dupla tragédia, o ápice do descontrole<br />
psíquico e emocional.<br />
E sozinho em pé a meio do quarto, o barão, fulminado desta dupla<br />
traição pela evidência iniludível, assim brutalmente ulcerado na sua<br />
condição de amante e de marido, permanecia imóvel e branco<br />
também, petrificado, cego, e não atinava com um castigo bastante à<br />
enormidade da ofensa, não achava a fórmula do seu desforço, a<br />
medida da sua vingança, o estalão do seu desprezo. (BL, p.326)