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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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esconder suas fragilidades, para demonstrar seu status ou mesmo para dissimular a<br />

inclinação sexual considerada como marginal. Na verdade, estes símbolos eram vistos<br />

como um dos lugares demarcadores no terreno dos privilégios da masculinidade. A<br />

partir do pensamento de Simone Beauvoir, podemos, parafraseando-a, afirmar também<br />

que não se nasce homem, mas torna-se homem, já que tanto a categoria mulher como a<br />

categoria homem são construídas socialmente e os símbolos de ostentação da<br />

masculinidade, no caso dos homens, fazem parte de tal construção. Aqui é necessário<br />

salientar que o cigarro ou o charuto eram percebidos, de algum modo, não só como<br />

marcadores da masculinidade, mas também como sinais de liberdade e independência<br />

em relação ao poder patrilinear. Por isso, inclusive, muitas mulheres começaram a se<br />

apropriar destes símbolos “canonizados” como masculinos, a partir do final do século<br />

XIX, como demonstração de emancipação em suas lutas pela igualdade de direitos.<br />

Outro lugar marcado como sustentáculo da demonstração do comportamento<br />

masculino seria a capacidade de duelar em defesa da honra, principalmente na alta<br />

camada social, da qual fazia parte o barão de Lavos. Contudo, segundo o narrador, a<br />

querela deste com seu oponente, que chega ao nível de se bater em duelo, devia-se mais<br />

às suspeitas do barão de que “o Câmara” estivesse cortejando Eugênio, amante do barão<br />

e, não porque aquele lisonjeasse a baronesa Elvira, como vemos a seguir.<br />

Que relação poderia haver entre a andromania do barão e do<br />

Câmara?...- A bem dizer nenhuma. Pretendia-lhe o marialva a<br />

esposa: não parecia que devesse com isso incomodar-se demasiado<br />

o marido. Todavia, refletindo... acudia o passado do Câmara, o caso<br />

do comendador... notavam-se ilações; analogias!- de modo que sem<br />

saber porquê, quando, depois do sarau em São Cristóvão, os três se<br />

encontraram, foram unânimes em que o ódio do barão ao marialva<br />

se firmava não no sobressalto do risco do seu tálamo, mas numa<br />

causa misteriosa, por eles adivinhada vagamente. (BL, p.206)<br />

O outro aspecto que merece ser discutido no texto seria a questão sempre<br />

crescente da cobiça sexual do Barão. Segundo o narrador, a força incontrolável do<br />

instinto animal que domina o personagem-título, no desejo de se apropriar de jovens<br />

imberbes, transgride os códigos morais vigentes. “Devia ser um rapaz que ele<br />

procurava; porque os olhos deste homem alto e seco poisavam de preferência nas faces<br />

imberbes, levemente penujosas dos adolescentes. Fitava-os um instante, com uma<br />

fixidez gulosa e sombria” (BL, p.8). Deste modo, o narrador, apoiado pelas teorias<br />

científicas que vicejavam no período e que foram acatadas pela corrente naturalista,<br />

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