ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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frutos de herança genética e se manifestam de maneira desregrada quando estes vão se<br />
despojando dos princípios que regem o processo civilizatório.<br />
O Naturalismo, então, ao tentar ser representação precisa da realidade,<br />
passou a munir-se de fórmulas para explicar o comportamento humano. Dentro desta<br />
lógica, passa a utilizar-se tanto das ciências naturais como das ainda incipientes ciências<br />
da área sociológica. Deste modo, “o Naturalismo é um pouco a sociologia na literatura”<br />
(SODRÉ, 1965, p.25). Esta escola, pois, terá como uma de suas características a<br />
introdução da ciência no espaço orbital da arte literária. Para que isto aconteça, torna-se<br />
necessário evidenciar a decadência social através de questões ligadas à psicologia e à<br />
biologia, fazendo com que os romances no Naturalismo passem a ser uma verdadeira<br />
tese com nuances de cientificidade, tentando analisar as questões sociais através do<br />
“rigorosismo técnico, mais do que quem faz ciência do que literatura” (SODRÉ, 1965,<br />
p.30). O corpo, assim, torna-se um verdadeiro campo de provas das ciências. Por este<br />
motivo, aquele passa a ser uma presença constante nas obras do Naturalismo, pois<br />
justamente no corpo se podia comprovar as teorias científicas que grassavam no<br />
período.<br />
Zola, em seus romances, coloca focos de luz nas mazelas, misérias, vícios e<br />
promiscuidade que afloram na vida cotidiana, principalmente da classe operária, mas<br />
sem deixar de fora outras classes sociais. Esta sinalização devia-se ao fato de ser ele<br />
simpatizante do operariado, como classe social, e das causas que estavam a favor desta.<br />
Ao mesmo tempo, procurava mostrar que as desigualdades sociais eram frutos da<br />
exploração e das injustiças cometidas pela barbárie do mau uso que a burguesia fazia do<br />
capital. Ele foi, muitas vezes, criticado pelos teóricos literários, mas respondia a estes<br />
críticos que o romance naturalista deveria ter como parâmetro e baluarte a ciência e a<br />
classe operária. Zola acreditava também que estas obras deveriam passar pelo viés da<br />
experimentação e da observação. Vejamos a opinião do próprio Zola, contida no seu<br />
livro Le Roman Expérimental e citada por Sodré:<br />
Entendemos que um romancista deve ser ao mesmo tempo um<br />
observador e um experimentador. O observador expõe os fatos tais<br />
quais os observou, estabelece o terreno sólido em que se vão mover<br />
os personagens e acontecimentos; em seguida surge o<br />
experimentador e faz as experiências, isto é, faz seus personagens se<br />
movimentarem em determinado enredo de modo a patentear que a<br />
sucessão dos fatos é exigida pelo determinismo das coisas<br />
estudadas. (SODRÉ, 1965, p.33)<br />
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