ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Na questão pertinente ao Brasil entre 1808-1821, podemos observar que<br />
deste partia toda a política imperial, já que era no Rio de Janeiro que a família imperial<br />
portuguesa fixara residência. Vejamos que a colônia brasileira torna-se metrópole e a<br />
metrópole, Portugal, torna-se colônia. “Nós verdadeiramente é que éramos a colônia”<br />
(QUEIRÓS, apud RIBEIRO, 2004, p.61), confirma o crítico português. Apesar deste<br />
período de inversão do poder político, não podemos deixar de levar em consideração<br />
Portugal como nação colonizadora do Brasil e não poderia ser diferente. Não se pode<br />
desconsiderar, tampouco, a influência que outros povos colonizadores europeus<br />
exerceram sobre Portugal e sobre o Brasil, tanto no período colonial como no pós-<br />
colonial, como integrantes e participantes de nossas representações culturais. Na<br />
verdade, “nossa produção crítica pós-colonial terá de considerar tanto Portugal quanto<br />
os novos centros de poder que nos interpelam através das mais variadas formas,<br />
inclusive através do discurso sobre as diferenças tão em voga nas instituições<br />
acadêmicas” (SCHNEIDER, 2005, p.182).<br />
Outra aproximação dos romances que pode ser explorada é a questão das<br />
monarquias portuguesa e brasileira, já que elas pertenciam ao mesmo tronco<br />
genealógico. O Barão de Lavos (Dom Sebastião) encarna em si uma metáfora da<br />
decadente casa imperial portuguesa. Esse fator pode ser visto como um elemento de<br />
crítica voraz à coroa portuguesa, pois esta não mais conseguia manter o país em seu<br />
status de nação conquistadora do além-mar tão bem contada e cantada por Camões em<br />
seu Os lusíadas 17 . Portugal, agora sob o domínio de uma monarquia envelhecida,<br />
hibridizada, e infértil de conquistas colocara à deriva o orgulho deste povo de<br />
conquistadores. Portugal monárquico tornara-se um país que dava volta ao redor de si<br />
mesmo, sem conseguir sair da letargia devido a problemas internos insolúveis. O barão,<br />
assim, alegoricamente, representava esta monarquia que vivia de favores, sem trabalho,<br />
apenas usufruindo de rendas e dos altos impostos cobrados do já combalido povo<br />
português e de suas pessimamente administradas colônias ou postos comerciais. O<br />
casamento do barão, que não lhe trouxera herdeiros devido à infertilidade deste,<br />
representa a própria monarquia portuguesa, incapaz de gerar o novo, e um futuro<br />
promissor para esta nação. A prática homogenital do barão, também, surge como<br />
17 Os lusíadas de Luís de Camões traçam a epopeia das conquistas portuguesas além-mar. Apesar do<br />
herói da narrativa ser individualizado em Vasco da Gama, o verdadeiro herói, das grandiosas conquistas,<br />
é o povo português. Nesta epopeia Camões mostra que os portugueses são tão grandiosos quanto os<br />
gregos, cantados por Homero, na Ilíada e na Odisseia e quanto os romanos, cantados por Virgílio, na<br />
Eneida.<br />
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