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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Destas buscas, nas duas últimas décadas, brotou a necessidade de rever os<br />

papeis das vozes silenciadas na formação das sociedades. É, justamente, neste momento<br />

que aparecem os estudos culturais, as teorias de gêneros e aquelas ligadas às<br />

masculinidades marcadas negativamente, como foco de luz, descortinando o que havia<br />

de escondido pelas formas tradicionais de entendimento da sociedade. A partir de então,<br />

os grupos minoritários, questionando os valores da ideologia dominante, passaram a se<br />

conscientizar do seu papel, enquanto sujeitos, dentro desse mundo liberal e globalizado,<br />

no qual todas as vozes devem ser ouvidas. É nesta perspectiva que vemos um Portugal<br />

historicamente conservador, saído da longa ditadura salazarista e, atualmente integrado<br />

na Comunidade Europeia, sendo abalado em suas convicções advindas de preconceitos<br />

arraigados historicamente inoculados em sua alma de nação colonizadora. Sob este<br />

mesmo ponto de vista, temos um Brasil, nação emergente, vindo do trauma de vinte<br />

cinco anos sob o coturno da ditadura militar, tentando, através de uma nova<br />

Constituição, dar aos seus cidadãos o direito de gozar de liberdades e dos direitos que a<br />

cidadania deve lhes confere.<br />

Obrigados à mudança urgente, Portugal e Brasil, países integrados à<br />

comunidade mundial democrática, são obrigados, empurrados pelos movimentos<br />

libertários ocorridos principalmente na Europa e nos Estados Unidos, a reconhecer os<br />

papeis de suas minorias na formação destas nações. Surgem comunidades, então<br />

homoafetivas organizadas, em ambos os países, conscientes de seus papeis na história e<br />

na cultura destas nações. Estes grupos passam, então, a demarcar seus lugares, através<br />

da conscientização legal e legítima do próprio discurso enquanto sujeitos e de um agir<br />

sexual cujo objeto do desejo se afasta dos padrões heteronormativos. Assim, ao passar<br />

historicamente, com suas práticas, suas reivindicações e seus discursos, da região do<br />

silêncio e da sombra para a da visibilidade e da representatividade, estes mesmos grupos<br />

começam a reivindicar o direito à voz na construção da história portuguesa e brasileira,<br />

respectivamente.<br />

Assim, pelo exposto nos dois parágrafos anteriores, poderíamos pensar que o<br />

afloramento da discussão da questão Da homossexualidade nestas duas nações (Portugal<br />

e Brasil) só veio à baila nas últimas décadas do século XX, através dos espaços<br />

reivindicados por esta categoria marginalizada. Contudo, isto não é dado verdadeiro,<br />

pois o próprio Naturalismo, no século XIX, já coloca em foco esta discussão, ao expô-la<br />

em diversas obras literárias, principalmente no Barão de Lavos (Portugal) e Bom-<br />

Crioulo (Brasil), narrativas nas quais os praticantes da homogenitalidade têm o lugar de<br />

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