ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Assim, inseridos neste contexto que configuramos nos parágrafos anteriores,<br />
nortearemos nosso trabalho, visando descortinar o funcionamento das representações de<br />
questões associadas à homossexualidade, ao racismo e ao desejo colonial oitocentista,<br />
pois foi justamente neste período que tanto a problematização das masculinidades não<br />
hegemônicas passaram a entrar no rol das sexualidades injuriadas, como a questão das<br />
misturas das raças tornou-se o foco de discussões e catalogação científica em defesa do<br />
colonialismo branco e heterocentrista europeu. Vale mencionar que isto acontecera,<br />
justamente, no momento em que o ser humano se deparou face a face com o projeto de<br />
expansão colonial, através do qual os países europeus, brancos e hegemônicos tentavam,<br />
auxiliados pela ciência colocada a serviço deles, demonstrar que o processo civilizatório<br />
a alcançar haveria obrigatoriamente de copiar a base na qual estava fincada sua cultura,<br />
ou seja, na heterossexualidade branca europeia.<br />
De antemão, afirmamos que as referências teóricas escolhidas para nossa<br />
fundamentação servem para dar apoio às análises, não objetivando reduzir a capacidade<br />
ou o caráter literário dos romances, mas, pelo contrário, visando ampliá-los, através da<br />
entrada dos mesmos em outros campos de discussão. Assim, a escolha desses romances<br />
como nossos objetos de pesquisa exige, a nosso ver, que parcerias sejam estabelecidas<br />
com os referenciais teóricos selecionados a fim de lograr algum sucesso.<br />
Na verdade, trabalhar homossexualidades, racismo e desejo colonial expande<br />
a capacidade investigativa das narrativas e não tem o objetivo de aprisioná-las ou<br />
reduzi-las. Nossas escolhas possibilitam novos entendimentos aos já vastos campos dos<br />
estudos realizados sobre as respectivas narrativas. E partindo deste lugar, associados às<br />
relações que permeiam a literatura como um todo e as singularidades das literaturas e<br />
ideologias destes dois países de “mesma língua” e, ao mesmo tempo, inseridos dentro<br />
dos ditames históricos culturais do Ocidente cristão e patriarcal que permeiam,<br />
distinguem e fazem dialogar diversos campos relacionais perpetrados em ambos os<br />
países, que daremos forma ao olhar através do qual enfocaremos nosso corpus.<br />
Sabemos que, no final do século XIX, Brasil e Portugal precisavam buscar<br />
seus próprios caminhos, buscando subsídios culturais externos, sem perder de vista suas<br />
respectivas peculiaridades enquanto nações singulares. Na verdade, as cabeças<br />
pensantes tanto de Portugal como do Brasil finissecular, arvoravam-se o direito de<br />
reconstruir estas nações, copiando ou adaptando modelos e ideologias advindas da<br />
Europa Ocidental, principalmente da França, Alemanha e Inglaterra, sem abdicar de<br />
seus próprios projetos literários, econômicos, políticos e sociais.<br />
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