ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Contudo, é bom não perder de vista que a ideologia da escola naturalista<br />
pregava, aliado às questões positivistas, que o progresso português estava,<br />
obrigatoriamente, aliado à instauração da República como forma de governo em terras<br />
lusas. “O sentimento de fragilidade da identidade portuguesa que ao longo do século se<br />
foi desenvolvendo, primeiro com a perda do Brasil e posteriormente, com o discurso<br />
devastador da Geração de 70, atingiu, com o Ultimatum 1 britânico de 1890, o seu<br />
momento depressionário” (RIBEIRO, 2004, p.83). Vemos, assim, que a questão da<br />
autoestima do povo português se encontrava, naquele momento histórico, em baixa. Ao<br />
confrontar seu presente desabonador, principalmente se comparado com seu grandioso<br />
passado de nação imperialista, via-se o degringolar da nação, devido à inoperância da<br />
monarquia portuguesa para gerir tão grandiosa e orgulhosa nação herdeira de um<br />
passado glorioso, cabendo, assim, “aos portugueses criar e construir uma pátria<br />
inteiramente portuguesa e inteiramente atual” (RAMOS, 2003, p.364). O Ultimatum,<br />
imposto a Portugal pela Coroa inglesa e as perdas de grande parte dos territórios do<br />
Império na África, após a Conferência de Berlim 2 (1884-1885), colocavam a outrora<br />
nação portuguesa conquistadora em posição de inferioridade frente às nações centrais<br />
europeias imperialistas. É devido à essa situação precária, fruto da inoperância da<br />
monarquia, em que se encontrava o “mendicante” Portugal finissecular; país que um dia<br />
fora “berço de descobridores e de criadores de nações” (RAMOS, 2003, p. 348), que os<br />
autores de vários romances naturalistas, ironizam metaforicamente, através dos seus<br />
personagens, todo arcabouço histórico, social e político que vivia a outrora pátria<br />
exaltada por Camões.<br />
1 Ultimatum – Em 1890 a Inglaterra decreta, através deste documento, que o governo português retire<br />
suas tropas em onze horas dos territórios africanos por ela reivindicados. Acabando, deste modo, a<br />
política portuguesa que pretendia estender seu imperialismo em terras africanas. O projeto português era<br />
que houvesse uma ligação territorial contínua que se estenderia do oceano Atlântico ao Índico (de Angola<br />
a Moçambique).<br />
2 A Conferência de Berlim foi considerada pelos historiadores como um dos maiores acontecimentos do<br />
Oitocentos no campo do Direito Colonial Internacional e da expansão europeia. Nela, foram redefinidas<br />
as novas fronteiras das colônias africanas, de modo que fosse possível dirimir possíveis conflitos e se<br />
estabelecessem as zonas de influências das potencias europeias. Na assinatura do acordo final, Portugal<br />
foi um dos maiores perdedores de territórios.<br />
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