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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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constroi o personagem principal do romance - praticante do “vício secreto” – como um<br />

marginal social, pois esse, em seus papeis sexuais deuterocanônicos, se situa além-<br />

fronteira dos parâmetros instituídos para o exercício da masculinidade. Desejar<br />

sexualmente outro semelhante em gênero é algo que foge ao padronizado para o macho.<br />

O Barão, ao transgredir um dos pilares dos privilégios da masculinidade instituída,<br />

coloca-se à margem, já que este modus vivendi desestabiliza a persistente ordem<br />

heteronormativa forçando-a a um movimento em direção à clandestinidade social.<br />

Vejamos que “o marginal é aquele que não tem reconhecimento do centro. Isto é, do<br />

próprio institucional. É o institucional que exclui o marginal do “campo da<br />

legitimidade” e que o isola [...] no interior desse campo” (KRYSINSKY, 2007, p.9).<br />

Deste ponto de vista, torna-se obrigatório dentro das relações sociais levar<br />

em conta que as questões ligadas à construção social da homossexualidade passam pelo<br />

crivo da tradição, já que essa respalda o segmento da masculinidade não marcada com<br />

privilégios de hegemônica. Assim, a imagem do outro, no caso, o praticante do<br />

homossexualismo, tende a ser rejeitada e deteriorada pelo grupo dominante<br />

heterossexual. Por este motivo, o narrador do romance projeta o pensamento<br />

culturalmente majoritário – respaldado pela ciência – apresentando o Barão humilhado e<br />

rejeitado por um agir que se afasta do idealizado em suas tentativas de conquista dos<br />

jovens marginalizados socialmente: “com eles trocava o barão qualquer frase banal, a<br />

entabular relações: - o tempo como estava... lume para o cigarro... se andava passeando.<br />

- E era extraordinária a crise de eretismo que no pederasta acendiam as primeiras<br />

palavras destes seres inomináveis” (BL, p.387). O narrador, quando segue a teoria<br />

essencialista que apregoa o homossexualismo como algo degradante, estigmatiza<br />

negativamente o comportamento do personagem-título. É, então, partindo deste<br />

pressuposto essencialista que “o grupo estigmatizador é eximido de qualquer<br />

responsabilidade: não fomos nós, implica essa fantasia, que estigmatizamos essas<br />

pessoas e sim as forças que criaram o mundo – elas é que colocaram um sinal nelas,<br />

para marcá-las como inferiores ou ruins.” (ELIAS; SCOTSON, 2000, p.35).<br />

No segundo capítulo do romance, o narrador, com seu olhar naturalista, nos<br />

mostra que a prática nefanda do Barão era fruto de questões histórico-genéticas. As<br />

diatribes praticadas por este estariam diretamente ligadas às misturas que houvera, ao<br />

longo do tempo, em sua cepa genética e, adquiridas, através, de sua origem aristocrática<br />

decadente. Como o barão era o último rebento da linhagem miscigenada, torna-se<br />

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