ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Educado e “adestrado” para valorizar o poder que emana de seu privilégio<br />
que é ter o pênis e/ou o falo 11 , o homem desde cedo tenta reproduzir o modelo feito “sob<br />
medida” para ele. É assim que, a partir da mais tenra idade, os meninos são educados<br />
para seguir as normas que lhes dão os privilégios e, desse modo, todos aqueles que se<br />
desviarem do agir identificado com a postura de dominador serão punidos. Ser homem é<br />
ser o melhor, estar em posição teoricamente privilegiada em relação às mulheres, às<br />
crianças e aos outros que diferem do padrão masculino - como então abrir mão do que<br />
lhe dá vantagem? O homem macho é estimulado a perpetuar comportamentos dentro do<br />
papel social e cultural que representa. “A sua sexualidade preserva as características da<br />
força como dominação, especialmente através da penetração e da vergonha de ser<br />
penetrado, e da competição, manifesta pelas inúmeras conquistas e sua exibição a outros<br />
homens” (MUSSKOPF, 2005, p.82). Este deve calar sobre as dificuldades que enfrenta<br />
e aumentar o número de suas conquistas amorosas, mesmo que essas sejam apenas<br />
criações de sua mente historicamente condicionada. Podemos ver o pavor da<br />
homossexualidade nos mais diversos rituais no dia-a-dia do homem moderno: nos<br />
cumprimentos, nos esportes, nos sinais de amizade, nos bares, no ato de beber, nos<br />
gracejos sobre as mulheres. Tudo isto objetiva<br />
estreitar a coesão do grupo masculino, onde diferenças de classe são<br />
momentaneamente anuladas, e para impedir a emergência dos desejos<br />
homossexuais, todo um conjunto a oferecer um exutório escoador de<br />
agressividade que poderia nascer da frustração de tais desejos. A<br />
fraternidade viril esta submetida à seguinte contradição: necessário<br />
recusar todo homossexualismo declarado, embora afinal se prefira a<br />
companhia dos homens a das mulheres. (FALCONNET, 1977,<br />
p.112-113)<br />
Nolasco, um dos críticos do comportamento imposto aos homens pelo<br />
binarismo hetero/homo, seguindo as relações sociais baseadas nos pares de oposição,<br />
que rejeita a homossexualidade, mas em contrapartida respalda a homossociabilidade,<br />
afirma o seguinte: “Um menino é educado nas precariedades de um cárcere, para,<br />
quando crescer, se tornar seu próprio carcereiro” (NOLASCO, 1993, p.47). De fato, no<br />
campo convencionado das atitudes do agir do macho, o desempenho sexual é basilar na<br />
11 “Antes de Lacan, “falo” e “pênis” eram sinônimos, embora “falo” fosse sempre considerado um termo<br />
mais sutil. Mas Lacan usou “falo” para designar o que ele chamou Simbólico, que é a linguagem e a<br />
cultura. Em outras palavras, o falo é o símbolo do efeito que a linguagem tem no desenvolvimento da<br />
subjetividade humana. O falo e o pênis, portanto não são a mesma coisa. O pênis é o órgão masculino<br />
real. O falo é um símbolo da linguagem e da cultura.” (EILBERF-SCHWARTZ, 1995, p.46).<br />
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