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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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maus administradores e peritos em como gerir inocuamente um país. Estas narrativas<br />

servem, assim, para demonstrar que as monarquias tinham perdido o “bonde da<br />

história”, e que seriam necessárias mudanças. Sabemos que a corrente naturalista estava,<br />

naquele momento histórico, atrelada, politicamente, à causa republicana. Obviamente<br />

esta questão não podia deixar de ser ventilada numa análise dos dois romances. Até o<br />

nome de uma peça que D.Carolina e Aleixo vão assistir no teatro serve de ironia à<br />

monarquia: “Foram ao teatro, ontem, à Tomada da Bastilha” (BC, p.78). Isso mostra<br />

que as sementes advindas da revolução francesa e das aspirações republicanas foram<br />

depositadas em terras lusitanas e em terra brasilis e nelas encontraram terreno fértil<br />

devido à crise político-econômica que passavam os respectivos países.<br />

Todas essas metáforas que saem em defesa da heterossexualidade e da causa<br />

republicana, que por atalho execram o homossexualidade e o mistura racial nas<br />

narrativas de Botelho e de Caminha, juntamente com aquelas que condenam a<br />

monarquia em favor da causa republicana, se utilizam como pano de fundo da ciência e<br />

da heterocentrismo patriarcal como base de defesa de seus pontos de vista. Vemos que a<br />

condenação metafórica da monarquia na narrativa brasileira, em Bom-Crioulo, esta<br />

centrada na prática corrente da homossexualidade dentro da corveta da Marinha<br />

Imperial Brasileira. Estes fatos aconteciam em todos os níveis hierárquicos, e eram<br />

passados de ouvido a ouvido pelos mexericos correntes. Esta prática servia para<br />

demonstrar a inoperância, o descalabro moral (ou a hipocrisia) que existia na nossa<br />

marinha imperial e que a depreciava perante toda a nação. Além disso, a frota imperial<br />

estava totalmente antiquada e inadequada para uma nação com uma imensa costa<br />

marítima e que precisava tanto defendê-la como se impor como país soberano e<br />

emergente.<br />

A homossexualidade que o narrador incute em Bom-Crioulo carrega o ranço<br />

do racismo e do sexismo e está tanto associada à questão do branqueamento da<br />

população brasileira, além de destacar a inferioridade do homossexual, do negro e da<br />

mulher. No Oitocentos, “todos se dedicam a demonstrar, com sucesso, a inferioridade<br />

ontológica da mulher. A mulher está próxima do animal e do negro, sendo dominada<br />

por instintos primitivos – ciúme, vaidade, crueldade” (BADINTER, 1993, p. 18). A<br />

vinda de imigrantes europeus brancos livres para trabalhar em nossa lavoura cafeeira<br />

foram os prenúncios de tal fato histórico. Então, imputar à homossexualidade em um<br />

negro, forte, descomunal, feroz, protótipo do macho, demonstra a sagacidade e ironia do<br />

narrador. Pois esse, de maneira subliminar, trazia à tona o desejo das autoridades<br />

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