126A figura das entrosas, e engenhos de açúcar, <strong>que</strong> agora <strong>se</strong> usam assim de água, como debois, é a <strong>se</strong>guinte.Neste mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>que</strong> governava a Bahia d. Diogo de Menezes, entrou nela por fazermuita água uma nau da Índia, da qual era capitão Antônio Barroso, vin<strong>do</strong> <strong>primeiro</strong> <strong>em</strong> um batel ar<strong>em</strong>os o mestre, <strong>que</strong> havia i<strong>do</strong> no galeão o ano passa<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> Antônio Fernandes, o mau, apedir socorro, por<strong>que</strong> vinha a nau por três partes rachada, e já com 14 palmos de água dentro, e ogoverna<strong>do</strong>r man<strong>do</strong>u logo duas caravelas com pilotos práticos, <strong>que</strong> a trouxess<strong>em</strong> ao porto, o <strong>que</strong> nãobastou para <strong>que</strong> com a corrente da maré, <strong>que</strong> vazava, não <strong>se</strong> encostas<strong>se</strong> <strong>em</strong> uma baixa, onde porevitar maior dano lhe cortaram os mastros, e descarregaram com muita brevidade, e depois <strong>que</strong> deto<strong>do</strong> esteve descarregada, ven<strong>do</strong> <strong>que</strong> não tinha con<strong>se</strong>rto, lhe man<strong>do</strong>u d. Diogo pôr o fogo, chegan<strong>do</strong>quanto puderam à terra para <strong>se</strong> aproveitar a pregadura, como <strong>se</strong> aproveitou muita, a fazenda <strong>se</strong>entregou ao prove<strong>do</strong>r-mor, <strong>que</strong> então era o des<strong>em</strong>barga<strong>do</strong>r Pero de Cascais, o qual sobre isso foimanda<strong>do</strong> <strong>do</strong> reino <strong>que</strong> fos<strong>se</strong> preso, como foi, e pelejan<strong>do</strong> no mar com um corsário o feriram <strong>em</strong> umpé, de <strong>que</strong> ficou manco, mas no <strong>que</strong> toca à fazenda, <strong>livro</strong>u-<strong>se</strong> b<strong>em</strong>, a qual man<strong>do</strong>u el-rei cá buscar<strong>em</strong> <strong>se</strong>te naus da armada por Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mor <strong>que</strong> havia si<strong>do</strong> da Paraíba, ea levou a salvamento.LIVRO QUINTODA HISTÓRIA DO BRASILDO TEMPO QUE O GOVERNOU GASPAR DE SOUZAATÉ A VINDA DO GOVERNADOR DIOGO LUIZ DE OLIVEIRACAPÍTULO PRIMEIRODa vinda <strong>do</strong> décimo governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil Gaspar de Souza, e como veio por Pernambuco a darord<strong>em</strong> à conquista <strong>do</strong> MaranhãoSabida por Sua Majestade a nova da morte de d. Francisco de Souza, tornou a juntar ogoverno <strong>do</strong> Brasil to<strong>do</strong> <strong>em</strong> um, e o deu a Gaspar de Souza, e por<strong>que</strong> os france<strong>se</strong>s no ano de mil<strong>se</strong>iscentos e <strong>do</strong>ze tinham (sic) a povoar o Maranhão, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> não tinham os reis de Portugalmais direito nele <strong>que</strong> eles, pois Adão o não deixara <strong>em</strong> testamento mais a uns <strong>que</strong> a outros, com estepretexto trouxeram 12 religiosos da nossa Ord<strong>em</strong> Capuchinhos para converter<strong>em</strong> os gentios, meioeficacíssimo para com muita facilidade os pacificar<strong>em</strong>, e povoar<strong>em</strong> a terra; man<strong>do</strong>u Sua Majestadeao governa<strong>do</strong>r <strong>que</strong> vies<strong>se</strong> por Pernambuco para daí dar ord<strong>em</strong> a lançar os france<strong>se</strong>s <strong>do</strong> Maranhão, eo povoar e fortificar, pois era da sua conquista pela Coroa de Portugal, e <strong>que</strong> d. Diogo de Menezes,<strong>se</strong>u antecessor, <strong>se</strong> fos<strong>se</strong> para o reino, pois tinha acaba<strong>do</strong> o <strong>se</strong>u triênio, e ficass<strong>em</strong> governan<strong>do</strong> aBahia enquanto ele a ela não vinha o chanceler Rui Mendes de Abreu, e o prove<strong>do</strong>r-mor da fazendaSebastião Borges, os quais por <strong>se</strong>r<strong>em</strong> ambos muito velhos e enfermos, ajuntou o governa<strong>do</strong>r por suaprovisão Baltazar de Aragão, aqui mora<strong>do</strong>r, por capitão-mor da guerra por terra, por ter aviso <strong>que</strong>vinham inimigos à terra, e <strong>em</strong> Pernambuco, para a <strong>do</strong> Maranhão a Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong>, qu<strong>em</strong>an<strong>do</strong>u com c<strong>em</strong> homens por mar cm quatro barcos descobrir os portos, e o <strong>que</strong> neles havia; o qualdiscorren<strong>do</strong> a costa avante <strong>do</strong> Ceará foi até o Buraco das Tartarugas, e aí fez uma cerca, e deixou
127um presídio, <strong>do</strong>nde mandan<strong>do</strong> o capitão Martim Soares Moreno <strong>em</strong> um barco a descobrir oMaranhão, <strong>se</strong> tornou a Pernambuco a dar conta ao governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>que</strong> tinha feito, e pedir mais gente,e cabedal para a conquista, <strong>que</strong> o governa<strong>do</strong>r dilatou até a vinda de Martim Soares, e suainformação, ocupan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> entretanto no governo político, e administração da justiça, s<strong>em</strong> nesta fazerexceção de pessoas, pelo <strong>que</strong> era ama<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pe<strong>que</strong>nos, e t<strong>em</strong>i<strong>do</strong> <strong>do</strong>s grandes; fez também fazeralgumas obras importantes, como foi uma formosa casa para a alfândega sobre o vara<strong>do</strong>uro, onde <strong>se</strong>des<strong>em</strong>barcam as fazendas das barcas, e algumas calçadas nas ruas da vila, e uma mui comprida nocaminho de Jaboatão, onde com a muita lama atolavam os bois e carros, e não podiam trazer ascaixas de açúcar <strong>do</strong>s engenhos.Neste interim foi Martim Soares <strong>se</strong>guin<strong>do</strong> sua viag<strong>em</strong>, descobrin<strong>do</strong> e reconhecen<strong>do</strong> a baía,rios e portos <strong>do</strong> Maranhão, e por via de índios levou reca<strong>do</strong> ao reino <strong>que</strong> estavam ali france<strong>se</strong>s <strong>em</strong>comércio, com o qual aviso man<strong>do</strong>u Sua Majestade ord<strong>em</strong> ao governa<strong>do</strong>r <strong>que</strong> tornas<strong>se</strong> a enviar aeste descobrimento o dito Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong>.CAPÍTULO SEGUNDODe como man<strong>do</strong>u o governa<strong>do</strong>r a Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> a conquistar o MaranhãoEleito Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> por capitão-mor da conquista <strong>do</strong> Maranhão, como t<strong>em</strong>osdito, <strong>se</strong> foi logo às aldeias <strong>do</strong> nosso gentio pacífico, e por lhes saber falar b<strong>em</strong> a língua, e o mo<strong>do</strong>com <strong>que</strong> <strong>se</strong> levam, ajuntou quantos quis: um contarei só <strong>do</strong> <strong>que</strong> houve <strong>em</strong> uma aldeia, para <strong>que</strong> <strong>se</strong>veja a facilidade com <strong>que</strong> <strong>se</strong> leva este gentio de qu<strong>em</strong> os entende e conhece, e foi <strong>que</strong> pôs a umaparte bom feixe de arcos, e flechas, a outra outro de rocas, e fusos, e mostran<strong>do</strong>-lhos lhes dis<strong>se</strong>:“Sobrinhos, eu vou à guerra, estas são as armas <strong>do</strong>s homens esforça<strong>do</strong>s e valentes, <strong>que</strong> me hão de<strong>se</strong>guir; estas das mulheres fracas, e <strong>que</strong> hão de ficar <strong>em</strong> casa fian<strong>do</strong>; agora <strong>que</strong>ro ouvir qu<strong>em</strong> éhom<strong>em</strong>, ou mulher”. As palavras não eram ditas, quan<strong>do</strong> <strong>se</strong> começaram to<strong>do</strong>s a des<strong>em</strong>punhar, epegar <strong>do</strong>s arcos, e flechas, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> eram homens, e <strong>que</strong> partiss<strong>em</strong> logo para a guerra; ele osquietou, escolhen<strong>do</strong> os <strong>que</strong> havia de levar, e <strong>que</strong> fizess<strong>em</strong> mais flechas, e foss<strong>em</strong> esperar a armadaao Rio Grande, onde de passag<strong>em</strong> os iria tomar.Não ajuntou com tanta facilidade o governa<strong>do</strong>r os solda<strong>do</strong>s brancos <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mandar,por<strong>que</strong> exceto alguns, <strong>que</strong> por sua vontade <strong>se</strong> ofereceram a ir, os mais n<strong>em</strong> com prisões podiam <strong>se</strong>rtrazi<strong>do</strong>s, por<strong>que</strong> como os traziam de longe, e por matos <strong>do</strong>s engenhos e fazendas de noite, fugiam, ede 10 não chegavam quatro; porém caiu <strong>em</strong> uma traça mui boa, <strong>que</strong> foi obrigar aos homens ricos, eafazenda<strong>do</strong>s, <strong>que</strong> tinham mais de um filho, <strong>que</strong> dess<strong>em</strong> outro, com o <strong>que</strong> lhe sobejou gente; por<strong>que</strong>nenhum hom<strong>em</strong> destes man<strong>do</strong>u <strong>se</strong>u filho, s<strong>em</strong> ao menos mandar com eles um cria<strong>do</strong> branco, e <strong>do</strong>isnegros.Também pediu <strong>do</strong>is religiosos da nossa ord<strong>em</strong>, e o prela<strong>do</strong> lhe deu o irmão <strong>frei</strong> Cosme de S.Damião, varão prudente, e ob<strong>se</strong>rvantíssimo da sua regra, e <strong>frei</strong> Manuel da Piedade, mui perito nalíngua <strong>do</strong> Brasil, e respeita<strong>do</strong> <strong>do</strong>s índios Potiguares, e Tabajaras, assim por <strong>se</strong>u pai João Tavares,como por <strong>se</strong>u irmão <strong>frei</strong> Bernardino das Neves, <strong>do</strong>s quais t<strong>em</strong>os trata<strong>do</strong> no <strong>livro</strong> precedente epor<strong>que</strong> a guerra não havia de <strong>se</strong>r só contra os índios, <strong>se</strong>não também contra france<strong>se</strong>s, <strong>que</strong> estavamcom a fortaleza feita, e já preveni<strong>do</strong>s, deu o governa<strong>do</strong>r a Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> porcompanheiro o sargento-mor <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> Diogo de Campos Moreno, solda<strong>do</strong> experimenta<strong>do</strong> nasguerras de França, e Flandres, e <strong>que</strong> sabia b<strong>em</strong> formar um campo, e os ardis e tretas da peleja.Feito isto <strong>se</strong> <strong>em</strong>barcaram to<strong>do</strong>s dia de S. Bartolomeu, 24 de agosto da era de 1614 anos, <strong>em</strong>uma caravela, <strong>do</strong>is patachos e cinco caravelões; na caravela ia o capitão-mor, e <strong>se</strong>u filho Antônio deAlbu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> por capitão de uma companhia de 50 arcabuzeiros, de <strong>que</strong> era alferes Cristóvão Vaz
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179salvamento em 52 dias a Caminha,