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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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18A noite toda t<strong>em</strong> fogo para <strong>se</strong> a<strong>que</strong>ntar<strong>em</strong>, por<strong>que</strong> <strong>do</strong>rm<strong>em</strong> <strong>em</strong> redes no ar, e não têmcobertores, n<strong>em</strong> vesti<strong>do</strong>, mas <strong>do</strong>rm<strong>em</strong> nus mari<strong>do</strong> e mulher na mesma rede, cada um com os péspara a cabeça <strong>do</strong> outro, exceto os principais, <strong>que</strong> como têm muitas mulheres <strong>do</strong>rm<strong>em</strong> sós nas suasredes, e dali quan<strong>do</strong> <strong>que</strong>r<strong>em</strong> <strong>se</strong> vão deitar com a <strong>que</strong> lhes parece, s<strong>em</strong> <strong>se</strong> pejar<strong>em</strong> de <strong>que</strong> os vejam.Quan<strong>do</strong> é hora de comer <strong>se</strong> ajuntam os <strong>do</strong> rancho, e <strong>se</strong> as<strong>se</strong>ntam <strong>em</strong> cócoras, mas o pai da famíliadeita<strong>do</strong> na rede, e to<strong>do</strong>s com<strong>em</strong> <strong>em</strong> um alguidar, ou cabaço, a <strong>que</strong> chamam cuia, <strong>que</strong> estas são assuas baixelas, e <strong>do</strong>s cabaços principalmente faz<strong>em</strong> muito cabedal, por<strong>que</strong> lhes <strong>se</strong>rv<strong>em</strong> de pratospara comer, de potes e de púcaros para água e vinho, e de colheres, e assim os guardam <strong>em</strong> unscaniços <strong>que</strong> faz<strong>em</strong> chama<strong>do</strong>s jiraus, onde também curam ao fumo os <strong>se</strong>us legumes, por<strong>que</strong> <strong>se</strong> nãocorrompam, e s<strong>em</strong> ter<strong>em</strong> caixas, n<strong>em</strong> fechaduras, e os ranchos s<strong>em</strong> portas, to<strong>do</strong>s abertos, são tãofiéis uns aos outros, <strong>que</strong> não há qu<strong>em</strong> tome ou bula <strong>em</strong> coisa alguma s<strong>em</strong> licença de <strong>se</strong>u <strong>do</strong>no.Não moram mais <strong>em</strong> uma aldeia <strong>que</strong> <strong>em</strong> quanto lhes não apodrece a palma <strong>do</strong>s tetos dascasas, <strong>que</strong> é espaço de três ou quatro anos, e então o mudam para outra parte, escolhen<strong>do</strong> <strong>primeiro</strong> oprincipal, com o parecer <strong>do</strong>s mais antigos, o sítio <strong>que</strong> <strong>se</strong>ja alto, desabafa<strong>do</strong>, com água perto, e terraa propósito para suas roças e s<strong>em</strong>enteiras, <strong>que</strong> eles diz<strong>em</strong> <strong>se</strong>r a <strong>que</strong> não foi ainda cultivada, por<strong>que</strong>têm por menos trabalho cortar árvores <strong>que</strong> mondar erva, e <strong>se</strong> estas aldeias ficam fronteiras de <strong>se</strong>uscontrários, e têm guerras, as cercam de pau-a-pi<strong>que</strong> mui forte, e às vezes de duas e três cercas, todascom suas <strong>se</strong>teiras, e entre uma e outra cerca faz<strong>em</strong> fossos cobertos de erva, com muitos estrepes debaixo, e outras armadilhas de vigas mui pesadas, <strong>que</strong> <strong>em</strong> lhes tocan<strong>do</strong> ca<strong>em</strong>, e derribam a quantosacham.CAPÍTULO DÉCIMO QUARTODos <strong>se</strong>us casamentos e criação <strong>do</strong>s filhosNão é fácil averiguar, mormente entre os principais, <strong>que</strong> têm muitas mulheres, qual <strong>se</strong>ja averdadeira, e legítima, por<strong>que</strong> nenhum contrato exprim<strong>em</strong>, e facilmente deixam umas e tomamoutras, mas conjetura-<strong>se</strong> <strong>que</strong> é a<strong>que</strong>la de <strong>que</strong> <strong>primeiro</strong> <strong>se</strong> namoram, e por cujo amor <strong>se</strong>rviram aossogros, pescan<strong>do</strong>-lhes, caçan<strong>do</strong>, roçan<strong>do</strong> o mato para a s<strong>em</strong>enteira, e trazen<strong>do</strong>-lhes a lenha para ofogo. Mas o sogro não entrega a moça até lhe não vir <strong>se</strong>u costume, e então é ela obrigada a trazerata<strong>do</strong> pela cintura um fio de algodão, e <strong>em</strong> cada um <strong>do</strong>s buchos <strong>do</strong>s braços, outro, para <strong>que</strong> venha ànotícia de to<strong>do</strong>s, e depois <strong>que</strong> é deflorada pelo mari<strong>do</strong>, ou por qual<strong>que</strong>r outro, <strong>que</strong>bra <strong>em</strong> sinal dissoos fios, parecen<strong>do</strong>-lhe <strong>que</strong> <strong>se</strong> o encobrir a levará o diabo, e o mari<strong>do</strong> de qual<strong>que</strong>r maneira a recebe,e consuman<strong>do</strong> o matrimônio, <strong>se</strong> t<strong>em</strong> <strong>que</strong> esta é a legítima mulher, ou quan<strong>do</strong> assim não estãocasa<strong>do</strong>s, a cunhada, mulher <strong>que</strong> foi <strong>do</strong> irmão defunto, ainda <strong>que</strong> lhe ficas<strong>se</strong> filho dele, ou a sobrinha/ filha, não <strong>do</strong> irmão, <strong>que</strong> esta t<strong>em</strong> eles <strong>em</strong> conta de filha própria, e não casam com ela, <strong>se</strong>não dairmã, / e com qual<strong>que</strong>r destas com <strong>que</strong> <strong>primeiro</strong> <strong>se</strong> casaram, ou <strong>se</strong>ja, a sobrinha ou a cunhada, oscasam depois sacramentalmente os religiosos <strong>que</strong> os curam, no mesmo dia <strong>em</strong> <strong>que</strong> batizamdispensan<strong>do</strong> nos impedimentos, por privilégio <strong>que</strong> para isto t<strong>em</strong>, e lhes tiram todas as outras,casan<strong>do</strong>-as com outros, não s<strong>em</strong> <strong>se</strong>ntimento <strong>do</strong>s <strong>primeiro</strong>s mari<strong>do</strong>s; por<strong>que</strong> de ordinário <strong>se</strong> ficamcom as mais velhas.A mulher <strong>em</strong> acaban<strong>do</strong> de parir <strong>se</strong> vai lavar ao rio, e o mari<strong>do</strong> <strong>se</strong> deita na rede, mui coberto,<strong>que</strong> não dê o vento, onde está <strong>em</strong> dieta, até <strong>que</strong> <strong>se</strong> <strong>se</strong><strong>que</strong> o umbigo ao filho, e ali o v<strong>em</strong> os amigos avisitar como a <strong>do</strong>ente, n<strong>em</strong> há poder lhes tirar esta superstição, por<strong>que</strong> diz<strong>em</strong> <strong>que</strong> com isto <strong>se</strong>pre<strong>se</strong>rvam de muitas enfermidades a si, e à criança, a qual também deitam <strong>em</strong> outra rede com <strong>se</strong>ufogo debaixo, <strong>que</strong>r <strong>se</strong>ja inverno, <strong>que</strong>r verão, e <strong>se</strong> é macho logo lhe põ<strong>em</strong> na azelha da rede umarquinho com suas flechas; e <strong>se</strong> fêmea uma roca com algodão.

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