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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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20ao desamparo. Test<strong>em</strong>unha sou eu de um, <strong>que</strong> achei na Paraíba tolhi<strong>do</strong> de pés e mãos, à borda deuma estrada, o qual me pediu lhe des<strong>se</strong> uma vez de água, <strong>que</strong> morria de <strong>se</strong>de, s<strong>em</strong> os <strong>se</strong>us, <strong>que</strong> porali passavam cada hora, lha <strong>que</strong>rer<strong>em</strong> dar, antes lhe diziam <strong>que</strong> morres<strong>se</strong> por<strong>que</strong> já estava tísico, e<strong>que</strong> não <strong>se</strong>rvia mais <strong>que</strong> para comer o pão aos sãos; mandei eu buscar água por uns <strong>que</strong> meacompanhavam e, entretanto, o fi<strong>que</strong>i catequizan<strong>do</strong> por<strong>que</strong> ainda não era cristão, e de tal maneira <strong>se</strong>acendeu na <strong>se</strong>de de o <strong>se</strong>r, e de salvar sua alma, <strong>que</strong> vinda a água, <strong>primeiro</strong> quis <strong>que</strong> o batizas<strong>se</strong>, <strong>que</strong>beber, e daí a poucos dias morreu <strong>em</strong> um incêndio de uma aldeia, onde o mandei levar, s<strong>em</strong> haverqu<strong>em</strong> o qui<strong>se</strong>s<strong>se</strong> tirar da casa <strong>que</strong> ardia, ven<strong>do</strong> <strong>que</strong> não tinha ele pés n<strong>em</strong> forças para <strong>se</strong> livrar.Donde <strong>se</strong> vê a pouca caridade <strong>que</strong> t<strong>em</strong> este gentio com os fracos e enfermos, e juntamente ami<strong>se</strong>ricórdia <strong>do</strong> Senhor, e efeitos da sua eterna predestinação, a qual não só neste, mas <strong>em</strong> outrosmuitos manifesta muitas vezes, ordenan<strong>do</strong> <strong>que</strong> percam os religiosos o caminho <strong>que</strong> levam, e vão darnos tigipares ou cabanas com enfermos <strong>que</strong> estão agonizan<strong>do</strong>, os quais receben<strong>do</strong> de boa vontade osacramento <strong>do</strong> batismo <strong>se</strong> vão a gozar da b<strong>em</strong>-aventurança no céu.Tanto <strong>que</strong> algum morre o levam a enterrar, <strong>em</strong>brulha<strong>do</strong> na mesma rede <strong>em</strong> <strong>que</strong> <strong>do</strong>rmia, e amulher, filhas e parentas, <strong>se</strong> as t<strong>em</strong>, o vão prantean<strong>do</strong> até a cova com os cabelos soltos lança<strong>do</strong>ssobre o rosto, e depois o pranteia ainda a mulher muitos dias: mas <strong>se</strong> morre algum principal daaldeia, o untam to<strong>do</strong> de mel, e por cima <strong>do</strong> mel o <strong>em</strong>penam com penas de pássaros de cores, epõ<strong>em</strong>-lhe uma carapuça de penas na cabeça com to<strong>do</strong>s os mais enfeites, <strong>que</strong> ele costumava trazer<strong>em</strong> suas festas, e faz<strong>em</strong>-lhe na mesma casa, e rancho onde morava, uma cova muito funda e grande,onde lhe armam sua rede, e o deitam nela assim enfeita<strong>do</strong> com <strong>se</strong>u arco e flechas, espada etamaracá, <strong>que</strong> é um cabaço com pedrinhas dentro, com <strong>que</strong> costumam tanger, e faz<strong>em</strong>-lhe fogo aolongo da rede para <strong>se</strong> a<strong>que</strong>ntar, e põ<strong>em</strong>-lhe de comer <strong>em</strong> um alguidar, e a água <strong>em</strong> um cabaço, e namão uma cangueira, <strong>que</strong> é um canu<strong>do</strong> feito de palma cheio de tabaco, e então lhe cobr<strong>em</strong> a cova d<strong>em</strong>adeira, e de terra por cima, <strong>que</strong> não caia sobre o defunto, e a mulher por dó corta os cabelos, etinge-<strong>se</strong> toda de jenipapo, prantean<strong>do</strong> o mari<strong>do</strong> muitos dias, e o mesmo faz<strong>em</strong> com ela as <strong>que</strong> a v<strong>em</strong>visitar, e tanto <strong>que</strong> o cabelo cresce até lhe dar pelos olhos, o torna a cortar, e a tingir-<strong>se</strong> de jenipapo,para tirar o dó, e faz sua festa com <strong>se</strong>us parentes, e muito vinho.O mari<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> lhe morre a mulher também <strong>se</strong> tinge de jenipapo, e quan<strong>do</strong> tira o dó <strong>se</strong>torna a tingir, tosquia-<strong>se</strong> e ordena grandes revoltas de cantar, e bailar, e beber, nestas festas <strong>se</strong>cantam as proezas <strong>do</strong> defunto, ou defunta, e <strong>do</strong> <strong>que</strong> tira o dó, e <strong>se</strong> morre algum menino filho deprincipal o met<strong>em</strong> <strong>em</strong> um pote, posto <strong>em</strong> cócoras, ata<strong>do</strong>s aos joelhos com a barriga, e enterram opote na mesma casa, e rancho, debaixo <strong>do</strong> chão, e ali o choram muitos dias.CAPÍTULO DÉCIMO SEXTODo mo<strong>do</strong> de guerrear o gentio <strong>do</strong> Brasil.É este gentio naturalmente tão belicoso, <strong>que</strong> to<strong>do</strong> o <strong>se</strong>u cuida<strong>do</strong> é como farão guerra a <strong>se</strong>uscontrários, e sobre isto <strong>se</strong> ajuntam no terreiro da aldeia com o principal dela, os principais das casas,e outros índios discretos, a con<strong>se</strong>lho, onde depois de as<strong>se</strong>nta<strong>do</strong>s nas suas redes, <strong>que</strong> para isto armam<strong>em</strong> umas estacas, e quieto o rumor <strong>do</strong>s mais <strong>que</strong> <strong>se</strong> ajuntam a ouvir, por<strong>que</strong> é a gente <strong>que</strong> <strong>em</strong>nenhuma coisa t<strong>em</strong> <strong>se</strong>gre<strong>do</strong>, propõ<strong>em</strong> o maioral sua prática, a <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s estão mui atentos, e como<strong>se</strong> acaba respond<strong>em</strong> os mais antigos cada um per si, até <strong>que</strong> v<strong>em</strong> a concluir no <strong>que</strong> hão de fazer,brindan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> entretanto algumas vezes com o fumo da erva santa, <strong>que</strong> eles têm por cerimônia grave,e <strong>se</strong> conclu<strong>em</strong> <strong>que</strong> a guerra <strong>se</strong> faça, mandam logo <strong>que</strong> <strong>se</strong> faça muita farinha de guerra, e <strong>que</strong> <strong>se</strong>apercebam de arcos, e flechas, e alguns pave<strong>se</strong>s, ou rodelas, e espadas de paus tosta<strong>do</strong>s, e comotodas estas coisas estão prestes à noite antes da partida, anda o principal da aldeia pregan<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r

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