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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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22o pintam de jenipapo, e lhe ting<strong>em</strong> os pés de vermelho, e meten<strong>do</strong>-lhe uma espada na mão, para <strong>que</strong><strong>se</strong> defenda como puder, o levam assim ata<strong>do</strong> a um terreiro fora da aldeia, e o met<strong>em</strong> entre <strong>do</strong>ismourões, <strong>que</strong> estão meti<strong>do</strong>s no chão, afasta<strong>do</strong>s um <strong>do</strong> outro alguns 20 palmos, os quais estãofura<strong>do</strong>s, e por cada furo met<strong>em</strong> as pontas das cordas, onde o preso fica como touro, e as velhas lhecantam, <strong>que</strong> <strong>se</strong> farte de ver o sol, pois ce<strong>do</strong> o deixará de ver, e o cativo responde com muitacorag<strong>em</strong>, <strong>que</strong> b<strong>em</strong> vinga<strong>do</strong> há de <strong>se</strong>r, então vão buscar o <strong>que</strong> há de matar a sua casa to<strong>do</strong>s os <strong>se</strong>usparentes, e amigos, onde o acham já pinta<strong>do</strong> de tinta de jenipapo com carapuça de penas na cabeça,manilhas de ossos nos braços, e nas pernas grandes ramais de contas ao pescoço, com <strong>se</strong>u rabo depenas nas ancas, e uma espada de pau pesada de ambas as mãos mui pintada, com cascas d<strong>em</strong>ariscos pegadas com cera, e no cabo e <strong>em</strong>punhadura da espada grandes penachos; e assim otraz<strong>em</strong> com grandes cantares, e tangeres de <strong>se</strong>us búzios, gaitas e tambores, chaman<strong>do</strong>-lhe b<strong>em</strong>aventura<strong>do</strong>,pois chegou a tamanha honra, e com este estron<strong>do</strong> entra no terreiro, onde o paciente oespera, e lhe diz <strong>que</strong> <strong>se</strong> defenda, por<strong>que</strong> v<strong>em</strong> para o matar, e logo r<strong>em</strong>ete a ele com a espada deambas as mãos, e o padecente com a sua <strong>se</strong> defende, e ainda às vezes ofende, mas como os <strong>que</strong> ot<strong>em</strong> pelas cordas o não deixam desviar <strong>do</strong> golpe, o mata<strong>do</strong>r lhe <strong>que</strong>bra a cabeça, e toma nome, <strong>que</strong>depois declara com as cerimônias <strong>que</strong> vimos no capítulo passa<strong>do</strong>.Em morren<strong>do</strong> este preso, logo os velhos da aldeia o despedaçam, e lhe tiram as tripas eforçura, <strong>que</strong> mal lavadas coz<strong>em</strong> para comer, e reparte-<strong>se</strong> a carne por todas as casas, e peloshóspedes, <strong>que</strong> vieram a esta matança, e dela com<strong>em</strong> logo assada, e cozida, e guardam alguma muitoassada, e mirrada, a <strong>que</strong> chamam moquém, metida <strong>em</strong> novelos de fio de algodão, e posta noscaniços ao fumo, para depois renovar<strong>em</strong> o <strong>se</strong>u ódio, e fazer<strong>em</strong> outras festas, e <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> faz<strong>em</strong>grandes alguidares de migas, e papas de farinha de carimã, para suprir na falta de carne, e poderchegar a to<strong>do</strong>s; o <strong>que</strong> o matou nenhuma coisa come dele, antes <strong>se</strong> vai logo deitar na rede, e <strong>se</strong> fazto<strong>do</strong> sarrafaçar, e sangrar, ten<strong>do</strong> por certo <strong>que</strong> morrerá <strong>se</strong> não derrama de si a<strong>que</strong>le sangue, n<strong>em</strong> fazo cabelo dali a <strong>se</strong>te ou oito me<strong>se</strong>s, os quais passa<strong>do</strong>s faz muitos vinhos, e apelida os amigos parabeber e cantar, e com essa festa <strong>se</strong> tos<strong>que</strong>ia, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> tira o dó da<strong>que</strong>le morto, e é tão cruel estegentio com os <strong>se</strong>us cativos, <strong>que</strong> não só os matam a eles, mas <strong>se</strong> acontece a algum haver filho damoça <strong>que</strong> lhe deram por mulher, a obrigam <strong>que</strong> o entregue a um parente mais chega<strong>do</strong>, para <strong>que</strong> omate, qua<strong>se</strong> com as mesmas cerimônias, e a mãe é a primeira <strong>que</strong> lhe come a carne; posto <strong>que</strong>algumas, pelo amor <strong>que</strong> lhes têm, os escond<strong>em</strong>, e às vezes soltam também os presos, e <strong>se</strong> vão comeles para suas terras, ou para outras.LIVRO SEGUNDODA HISTÓRIA DO BRASIL NO TEMPO DO SEU DESCOBRIMENTO

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