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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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98neles <strong>se</strong> vingaram. Outro foi Cristóvão da Rocha, <strong>que</strong> veio com quarenta homens <strong>em</strong> um caravelão,o qual com con<strong>se</strong>ntimento de Tomé da Rocha, capitão de Sergipe, <strong>se</strong> concertou com RodrigoMartins para entrar<strong>em</strong> pelo <strong>se</strong>rtão <strong>em</strong> busca deste gentio, e <strong>do</strong> mais <strong>que</strong> achas<strong>se</strong>.Haven<strong>do</strong> anda<strong>do</strong> alguns dias, e passa<strong>do</strong> o sumi<strong>do</strong>uro <strong>do</strong> rio de S. Francisco, <strong>se</strong> alojaram <strong>em</strong>casa de um <strong>se</strong>lvag<strong>em</strong> chama<strong>do</strong> Tuman, onde começaram a ter dúvidas, dizen<strong>do</strong> Cristóvão da Rocha<strong>que</strong> ele vinha com licença <strong>do</strong>s Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> de Pernambuco, s<strong>em</strong> a qual os mora<strong>do</strong>res da Bahia nãopodiam conquistar n<strong>em</strong> fazer resgates na<strong>que</strong>le <strong>se</strong>rtão, e assim haviam de melhorar nos quinhões porrazão da licença os pernambucanos, posto <strong>que</strong> eram menos <strong>em</strong> número, no <strong>que</strong> Rodrigo Martins nãoquis con<strong>se</strong>ntir, e <strong>se</strong> tornou <strong>do</strong> caminho; mas aceitou o parti<strong>do</strong> um Antônio Rodrigues de Andrade,<strong>que</strong> levava c<strong>em</strong> negros, e alguns outros brancos da Bahia, com os quais <strong>se</strong> partiu dali o capitãoCristóvão da Rocha, e por ter ouvi<strong>do</strong> <strong>que</strong> a gente <strong>do</strong> Porquinho matara quatro ou cinco homens, <strong>que</strong>lá foram com <strong>do</strong>is padres da companhia, <strong>se</strong> foi direito às suas aldeias, onde chegan<strong>do</strong> a primeira,entrou um mamaluco chama<strong>do</strong> Domingos Fernandes Nobre, pregan<strong>do</strong> <strong>que</strong> iam tomar vingança damorte <strong>do</strong>s brancos, e isto bastou para os alborotar, e pôr a to<strong>do</strong>s <strong>em</strong> fugida, o <strong>que</strong> também fizerampor ver<strong>em</strong> no nosso exército cavalos, por<strong>que</strong> os t<strong>em</strong><strong>em</strong> muito.Visto isto pelo capitão, man<strong>do</strong>u reca<strong>do</strong> a outro gentio contrário, para <strong>que</strong> o viess<strong>em</strong> ajudarcontra estoutro, como o fizeram; e não hei de deixar de contar aqui o <strong>que</strong> me contou um solda<strong>do</strong>desta companhia, <strong>que</strong> fez um principal destes <strong>que</strong> vieram, o qual diz-<strong>se</strong> foi à estrebaria onde estavaum cavalo <strong>do</strong>s nossos, e as<strong>se</strong>ntan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> pôs-<strong>se</strong> a falar com ele, e dizer-lhe <strong>que</strong> o tomava porcompadre, por<strong>que</strong> tinha ouvi<strong>do</strong> dizer <strong>que</strong> os cavalos eram mui valentes na guerra, e um era tê-loshom<strong>em</strong> por amigos, para <strong>que</strong> nela o conheçam, e lhe não façam mal. Estava ali um mamaluco, <strong>que</strong>tinha cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> cavalo, e quan<strong>do</strong> o viu tão triste, por<strong>que</strong> lhe não respondia, <strong>se</strong> lhe ofereceu paraintérprete, e fingin<strong>do</strong> <strong>que</strong> lhe falava à orelha, lhe tornou por resposta <strong>que</strong> folgava muito com suaamizade, e <strong>que</strong> ele o conheceria quan<strong>do</strong> fos<strong>se</strong> t<strong>em</strong>po; com esta resposta <strong>se</strong> afeiçoou mais o rústico, eperguntou <strong>que</strong> comia <strong>se</strong>u compadre, ou o <strong>que</strong> de<strong>se</strong>java, por<strong>que</strong> de tu<strong>do</strong> o proveria.Respondeu o mamaluco <strong>que</strong> o <strong>se</strong>u mantimento ordinário era erva e milho, mas <strong>que</strong> tambémcomia carne, e peixe, e mel, e de tu<strong>do</strong> o man<strong>do</strong>u prover abundant<strong>em</strong>ente, andan<strong>do</strong> os <strong>se</strong>us uns a<strong>se</strong>gar erva, outros a caçar, e pescar, e tirar mel <strong>do</strong>s paus, com <strong>que</strong> o intérprete <strong>se</strong> sustentava, e ocavalo engor<strong>do</strong>u tanto, <strong>que</strong> abafou, e morreu de gor<strong>do</strong>, cuja morte o rústico muito <strong>se</strong>ntiu, e oman<strong>do</strong>u prantear por sua mulher, e parentes, como costumam fazer aos defuntos <strong>que</strong> amam.Este era um <strong>do</strong>s principais, <strong>que</strong> o capitão Cristóvão da Rocha convocou para dar caça aos <strong>do</strong>Porquinho, <strong>que</strong> pela pregação <strong>do</strong> outro mamaluco andavam fugi<strong>do</strong>s com me<strong>do</strong> pelos matos.Porém um veio falar <strong>se</strong>cretamente a Diogo de Castro, solda<strong>do</strong> nosso, por <strong>se</strong>r <strong>se</strong>u amigo, econheci<strong>do</strong>, e lhe dis<strong>se</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong> espantava muito <strong>que</strong> vin<strong>do</strong> ele ali lhe qui<strong>se</strong>ss<strong>em</strong> fazer guerra, poissabia quão amigos eram <strong>do</strong>s brancos, e <strong>se</strong> haviam mortos os <strong>que</strong> vieram com os padres dacompanhia, fora por eles dizer<strong>em</strong> mal <strong>do</strong>s mesmos padres, <strong>que</strong> não ouviss<strong>em</strong> sua pregação, por<strong>que</strong>os vinham enganar, n<strong>em</strong> es<strong>se</strong>s foram to<strong>do</strong>s, <strong>se</strong>não alguns, e não era b<strong>em</strong> <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s pagass<strong>em</strong>.Respondeu-lhe Diogo de Castro <strong>que</strong> b<strong>em</strong> inteira<strong>do</strong> estava da sua amizade, e paz antiga, n<strong>em</strong>eles vinham a <strong>que</strong>brá-la, como o mamaluco mal dis<strong>se</strong>ra, mas <strong>que</strong> só vinham <strong>em</strong> <strong>se</strong>guimento <strong>do</strong>s <strong>que</strong>lhes haviam fugi<strong>do</strong> da guerra de Sergipe, e assim lhes acon<strong>se</strong>lhava <strong>que</strong> tornass<strong>em</strong> para suas aldeias,<strong>que</strong> ele os <strong>se</strong>gurava de lhes não fazer<strong>em</strong> agravo; contu<strong>do</strong> não <strong>se</strong> deu o índio por <strong>se</strong>guro s<strong>em</strong> <strong>que</strong> opu<strong>se</strong>s<strong>se</strong> com o capitão, e lho prometes<strong>se</strong> de sua boca. E com isto foi pregar aos <strong>se</strong>us, e os reduziu<strong>em</strong> poucos dias.Vinha entre eles o Porquinho, já muito velho, e enfermo, pediu o Sacramento <strong>do</strong> Batismo, eDiogo de Castro o catequizou, e batizou, pon<strong>do</strong>-lhe por nome Manuel. N<strong>em</strong> eu <strong>se</strong>i outro b<strong>em</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong>tiras<strong>se</strong> desta jornada, posto <strong>que</strong>, morto ele, <strong>se</strong> contrataram os contrários de vender os mais aosbrancos, e eles lhos compraram a troco <strong>do</strong>s resgates, <strong>que</strong> levavam, e os trouxeram amarra<strong>do</strong>s até

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