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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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17nossas, por<strong>que</strong> <strong>se</strong> <strong>que</strong>r<strong>em</strong> dizer Francisco, diz<strong>em</strong> Pancicu; e <strong>se</strong> <strong>que</strong>r<strong>em</strong> dizer Luiz, diz<strong>em</strong> Duhi; e opior é <strong>que</strong> também carec<strong>em</strong> de fé, de lei e de rei, <strong>que</strong> <strong>se</strong> pronunciam com as ditas letras.Nenhuma fé t<strong>em</strong> n<strong>em</strong> a<strong>do</strong>ram a algum Deus; nenhuma lei guardam, ou preceitos, n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>rei <strong>que</strong> lha dê, e a qu<strong>em</strong> obedeçam, <strong>se</strong>não é um capitão, mais para a guerra, <strong>que</strong> para a paz, o qualentre eles é o mais valente e aparenta<strong>do</strong>; e morto este, <strong>se</strong> t<strong>em</strong> filho, e é capaz de governar, fica <strong>em</strong><strong>se</strong>u lugar, <strong>se</strong>não algum parente mais chega<strong>do</strong> ou irmão.Fora este, <strong>que</strong> é capitão de toda a aldeia, t<strong>em</strong> cada casa <strong>se</strong>u principal, <strong>que</strong> são também <strong>do</strong>smais valentes, e aparenta<strong>do</strong>s, e <strong>que</strong> t<strong>em</strong> mais mulheres; porém n<strong>em</strong> a estes, n<strong>em</strong> ao maioral pagamos outros algum tributo, ou vassalag<strong>em</strong>, mais <strong>que</strong> chamá-los quan<strong>do</strong> t<strong>em</strong> vinhos, para os ajudar<strong>em</strong> abeber, ao <strong>que</strong> são muito da<strong>do</strong>s, e os faz<strong>em</strong> de mel, ou de frutas, de milho, batatas, e outros legumesmastiga<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>nzelas, e deli<strong>do</strong>s <strong>em</strong> água até <strong>se</strong> azedar, e não beb<strong>em</strong> quan<strong>do</strong> com<strong>em</strong>, <strong>se</strong>nãoquan<strong>do</strong> praticam, ou bailan<strong>do</strong>, ou cantan<strong>do</strong>.CAPÍTULO DÉCIMO TERCEIRODe suas aldeiasHá uma casta de gentios Tapuias chama<strong>do</strong>s por particular nome Aimorés, os quais nãofaz<strong>em</strong> casas onde mor<strong>em</strong>, mas onde <strong>que</strong>r <strong>que</strong> lhes anoitece, debaixo das árvores limpam umterreiro, no qual esfregan<strong>do</strong> uma cana ou flecha com outra acend<strong>em</strong> lume, e o cobr<strong>em</strong> com bomcouro de vea<strong>do</strong>, posto sobre quatro forquilhas, e ali <strong>se</strong> deitam to<strong>do</strong>s a <strong>do</strong>rmir com os pés para ofogo, dan<strong>do</strong>-lhes pouco, como os tenham enxutos e <strong>que</strong>ntes, <strong>que</strong> lhes chova <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o corpo.Porém as mais castas de índios viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> aldeias, <strong>que</strong> faz<strong>em</strong> cobertas de palma, e de talmaneira arrumadas, <strong>que</strong> lhes fi<strong>que</strong> no meio um terreiro, onde façam <strong>se</strong>us bailes e festas, e <strong>se</strong>ajunt<strong>em</strong> de noite a con<strong>se</strong>lho. As casas são tão compridas <strong>que</strong> moram <strong>em</strong> cada uma 70, ou 80 casais,e não há nelas algum repartimento mais, <strong>que</strong> os tirantes, e entre um e outro é um rancho, onde <strong>se</strong>agasalha um casal com sua família, e o <strong>do</strong> principal da casa é o <strong>primeiro</strong> no copiar, ao qual convida<strong>primeiro</strong> qual<strong>que</strong>r <strong>do</strong>s outros, quan<strong>do</strong> v<strong>em</strong> de caçar, ou de pescar, partin<strong>do</strong> com ele daquilo <strong>que</strong>traz, e logo vai também repartin<strong>do</strong> pelos mais, s<strong>em</strong> lhe ficar mais <strong>que</strong> quanto então jante, ou ceie,por mais grande <strong>que</strong> fos<strong>se</strong> a cambada <strong>do</strong> pesca<strong>do</strong>, ou da caça.E quan<strong>do</strong> algum v<strong>em</strong> de longe, as velhas da<strong>que</strong>la casa o vão visitar, ao <strong>se</strong>u rancho comgrande pranto, não todas juntamente, mas uma depois de outra, no qual pranto lhe diz<strong>em</strong> assaudades <strong>que</strong> tiveram, e trabalhos <strong>que</strong> padeceram <strong>em</strong> sua ausência, e ele também chora dan<strong>do</strong> unsurros de quan<strong>do</strong> <strong>em</strong> quan<strong>do</strong> s<strong>em</strong> exprimir coisa alguma, e o pranto acaba<strong>do</strong> lhe perguntam <strong>se</strong> veio,e ele responde <strong>que</strong> sim, e então lhe traz<strong>em</strong> de comer, o <strong>que</strong> também faz<strong>em</strong> aos portugue<strong>se</strong>s, <strong>que</strong> vãoàs suas aldeias, principalmente <strong>se</strong> lhes entend<strong>em</strong> a língua, maldizen<strong>do</strong> no choro a pouca ventura <strong>que</strong><strong>se</strong>us avós e os mais antepassa<strong>do</strong>s tiveram, <strong>que</strong> não alcançaram gente tão valorosa como são osportugue<strong>se</strong>s, <strong>que</strong> são <strong>se</strong>nhores de todas as coisas boas, <strong>que</strong> traz<strong>em</strong> a terra de <strong>que</strong> eles dantescareciam, e agora as t<strong>em</strong> <strong>em</strong> tanta abundância, como são macha<strong>do</strong>s, foices, anzóis, facas, tesouras,espelhos, pentes e roupas, por<strong>que</strong> antigamente roçavam os matos com cunhas de pedra, e gastavammuitos dias <strong>em</strong> cortar uma árvore, pescavam com uns espinhos, faziam o cabelo e as unhas compedras agudas, e quan<strong>do</strong> <strong>se</strong> <strong>que</strong>riam enfeitar faziam de um alguidar de água espelho, e <strong>que</strong> destamaneira viviam mui trabalha<strong>do</strong>s, porém agora faz<strong>em</strong> suas lavouras, e todas as mais coisas commuito descanso, pelo <strong>que</strong> os dev<strong>em</strong> de ter <strong>em</strong> muita estima; e este recebimento é tão usa<strong>do</strong> entreeles, <strong>que</strong> nunca ou de maravilha deixam de fazer, <strong>se</strong>não quan<strong>do</strong> reinam alguma malícia ou traiçãocontra a<strong>que</strong>les, <strong>que</strong> vão às suas aldeias a visitá-los, ou resgatar com eles.

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