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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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31tinham presos, mortos, e cativos, e feri<strong>do</strong>s quantos estavam na vila, e assim o iriam fazen<strong>do</strong> pelasaldeias, e para mais confirmação desta mentira levavam uns <strong>do</strong>s mortos, <strong>que</strong> era filho <strong>do</strong> principalda aldeia, com a cabeça <strong>que</strong>brada, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> por ali veriam <strong>se</strong> falavam verdade, o qual visto, eouvi<strong>do</strong> pelo principal, e pelos mais <strong>se</strong> pu<strong>se</strong>ram logo <strong>em</strong> arma, e foram dar nos escravos <strong>do</strong> capitão,<strong>que</strong> andavam no mato cortan<strong>do</strong> madeira, onde mataram um, os outros fugiram para a vila a contar o<strong>que</strong> <strong>se</strong> passava; e não bastou mandar-lhes o capitão dizer <strong>que</strong> os <strong>se</strong>us próprios fizeram a briga, e s<strong>em</strong>ataram uns aos outros com a bebedice, e <strong>que</strong> os brancos foram só apartá-los, e eram <strong>se</strong>us amigos;nada disto bastou, antes apeli<strong>do</strong>u o principal o das outras aldeias mandan<strong>do</strong>-lhes parte <strong>do</strong> escravo<strong>do</strong> capitão, <strong>que</strong> haviam morto, para <strong>que</strong> <strong>se</strong> cevass<strong>em</strong> nela, como os da sua haviam feito na outra eassim <strong>se</strong> ajuntaram infinitos, e pu<strong>se</strong>ram <strong>em</strong> cerco a vila, dan<strong>do</strong>-lhe muitos assaltos, e matan<strong>do</strong>alguns mora<strong>do</strong>res, e entre eles o capitão Afonso Gonçalves de uma flechada, <strong>que</strong> lhe deram por umolho, e lhe penetrou até os miolos, o qual os da vila recolheram, e enterraram com tanto <strong>se</strong>gre<strong>do</strong>,<strong>que</strong> o não souberam os inimigos <strong>em</strong> <strong>do</strong>is anos, <strong>que</strong> durou o cerco, antes viam tanto vigia, econcerto, <strong>que</strong> parecia estar dentro algum grande capitão, <strong>se</strong>n<strong>do</strong> <strong>que</strong> cada um o era de si mesmo, e anecessidade de to<strong>do</strong>s; por<strong>que</strong> até as mulheres vigiavam o <strong>se</strong>u quarto na fortaleza enquanto oshomens <strong>do</strong>rmiam, e estan<strong>do</strong> elas de posto uma noite, ven<strong>do</strong> os inimigos tanto silêncio, <strong>que</strong> parecianão haver ali gente, subiram alguns, e começaram a entrar pelas portinholas das peças, mas elas,<strong>que</strong> os haviam <strong>se</strong>nti<strong>do</strong> subir, os estavam aguardan<strong>do</strong> com suas partasanas nas mãos, e quan<strong>do</strong>estavam já com meio corpo dentro lhas meteram pelos peitos, e os passaram de parte a parte, e umanão contente com isso tomou um tição, e pôs fogo a uma peça com <strong>que</strong> fez fugir os outros, eespertar os nossos, <strong>que</strong> foi um feito mui heróico para mulheres ter<strong>em</strong> tanto silêncio, e tanto ânimo.O aperto maior <strong>que</strong> houve neste cerco foi o da fome; por<strong>que</strong> <strong>se</strong> não podiam valer de suasroças, onde tinham o mantimento, n<strong>em</strong> <strong>do</strong> mar para pescar e mariscar, e <strong>se</strong> da ilha de Itamaracá osnão socorreram pelo rio <strong>em</strong> um barco, s<strong>em</strong> dúvida morreram to<strong>do</strong>s à fome; e ainda este socorro lhequi<strong>se</strong>ram estorvar por muitos mo<strong>do</strong>s, mandan<strong>do</strong> ameaçar aos da ilha, <strong>que</strong> só por isto lhes iriamfazer guerra, e esperan<strong>do</strong> o barco; quan<strong>do</strong> passava, lhe tiravam de terra muitas flechadas, pelo <strong>que</strong>era necessário ir mui b<strong>em</strong> <strong>em</strong>pavesa<strong>do</strong>, e contu<strong>do</strong> s<strong>em</strong>pre feriam alguns r<strong>em</strong>eiros, e uma vezdeterminaram fazer uma armadilha com <strong>que</strong> metess<strong>em</strong> o barco no fun<strong>do</strong> com quantos iam nele, epara este efeito cortaram uma grande árvore, <strong>que</strong> estava <strong>em</strong> uma ponta de terra, por onde haviam deir costean<strong>do</strong>, e não a cortaram de to<strong>do</strong>, <strong>se</strong>não quanto <strong>se</strong> tinha por uma corda, para <strong>que</strong> quan<strong>do</strong>passas<strong>se</strong> o barco por junto dela então a largass<strong>em</strong> e deixass<strong>em</strong> cair; mas quis Deus <strong>que</strong> eles caíss<strong>em</strong>na armadilha, <strong>que</strong> fizeram, por<strong>que</strong> a árvore não caiu para fora, <strong>se</strong>não para a terra, e os colheudebaixo, matan<strong>do</strong> e ferin<strong>do</strong> a muitos.Outros muitos milagres obrou Nosso Senhor neste cerco, pela intervenção <strong>do</strong>s b<strong>em</strong>aventura<strong>do</strong>sS. Cosme e Damião, padroeiros desta vila, <strong>que</strong> <strong>se</strong> isto não fora não <strong>se</strong> puderamsustentar com tantas necessidades quantas padeciam.N<strong>em</strong> Duarte Coelho os podia socorrer, por estar também neste t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> contínuos assaltos<strong>do</strong> gentio na vila de Olinda, e lhe ter<strong>em</strong> por terra to<strong>do</strong>s os caminhos toma<strong>do</strong>s; somente man<strong>do</strong>ulevar <strong>em</strong> uns barcos as crianças, e a mais gente, <strong>que</strong> não pudes<strong>se</strong> pelejar; por<strong>que</strong> não estorvass<strong>em</strong>,n<strong>em</strong> comess<strong>em</strong> o mantimento aos mais, <strong>que</strong> não foi pe<strong>que</strong>no acor<strong>do</strong> para a<strong>que</strong>le t<strong>em</strong>po, até <strong>que</strong> quisNosso Senhor, <strong>que</strong> os mesmos inimigos, cansa<strong>do</strong>s já de pelejar, <strong>se</strong> pacificaram, e tornaram a terpaz, e amizade com os brancos, com o <strong>que</strong> tornaram a fazer suas fazendas.CAPÍTULO NONODe como Duarte Coelho correu a costa da sua capitania, fazen<strong>do</strong>guerra aos france<strong>se</strong>s, e paz com o gentio, e <strong>se</strong> foi para o reino

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