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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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15grossas. Há briguigões, amêijoas, mexilhões, búzios como caracóis, e outros tão grandes, <strong>que</strong>comida a polpa ou miolo faz<strong>em</strong> das cascas buzinas, <strong>em</strong> <strong>que</strong> tang<strong>em</strong>, e soão mui longe.Há muitas castas de caranguejos, não só na água <strong>do</strong> mar e nas praias entre os mangues: mastambém <strong>em</strong> terra entre os matos há uns de cor azul chama<strong>do</strong>s guaiamus, os quais nas primeiraságuas <strong>do</strong> inverno, <strong>que</strong> são <strong>em</strong> fevereiro, quan<strong>do</strong> estão mais gor<strong>do</strong>s, e as fêmeas cheias de ovas, <strong>se</strong>sa<strong>em</strong> das covas, e <strong>se</strong> andam vagan<strong>do</strong> pelo campo, e estradas, e meten<strong>do</strong>-<strong>se</strong> pelas casas para <strong>que</strong> oscomam.Camarões há muitos, não só no mar como os de Portugal, mas nos rios e lagoas de água<strong>do</strong>ce, e alguns tão grandes como lagostins, <strong>do</strong>s quais também há muitos, <strong>que</strong> <strong>se</strong> tomam nos recifesde águas-vivas, e muitos polvos e lagostas.CAPÍTULO UNDÉCIMODe outras coisas <strong>que</strong> há no mar e terra <strong>do</strong> BrasilInop<strong>em</strong> me copia fecit, dis<strong>se</strong> o poeta, e dis<strong>se</strong> verdade, por<strong>que</strong> onde as coisas são muitas éforça<strong>do</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong> percam, como acontece ao <strong>que</strong> vindima a vinha fértil e abundante de fruto, <strong>que</strong>s<strong>em</strong>pre lhe ficam muitos cachos de rebusco, e assim me há sucedi<strong>do</strong> com as coisas <strong>do</strong> mar e terra <strong>do</strong>Brasil, de <strong>que</strong> trato. Pelo <strong>que</strong> me é necessário rebuscar ainda algumas, <strong>que</strong> farei neste capítulo, <strong>que</strong>quanto todas é impossível relatá-las.Faz-<strong>se</strong> no Brasil sal não só <strong>em</strong> salinas artificiais, mas <strong>em</strong> outras naturais, como <strong>em</strong> CaboFrio, e além <strong>do</strong> Rio Grande, onde <strong>se</strong> acha coalha<strong>do</strong> <strong>em</strong> grandes pedras muito, e muito alvo. Faz-<strong>se</strong>também muita cal, assim de pedra <strong>do</strong> mar, como da terra, e de cascas de ostras, <strong>que</strong> o gentioantigamente comia, e <strong>se</strong> acham hoje montes delas cobertos de arvore<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>nde <strong>se</strong> tira e <strong>se</strong> cozeengradada entre madeira com muita facilidade.Há tucum, <strong>que</strong> são umas folhas qua<strong>se</strong> de <strong>do</strong>is palmos de compri<strong>do</strong>, <strong>do</strong>nde só com a mão s<strong>em</strong>outro artifício <strong>se</strong> tira pita rijíssima, e cada folha dá uma estriga. Outra planta há chamada caraguatá,da feição da erva babosa, mas cada folha t<strong>em</strong> uma braça de compri<strong>do</strong>, as quais deitadas de molho episadas, <strong>se</strong> desfaz<strong>em</strong> <strong>em</strong> linho de <strong>que</strong> <strong>se</strong> faz<strong>em</strong> linhas, e cordas, e <strong>se</strong> pode fazer pano.Há árvores de sabão, por<strong>que</strong> com a casca das frutas <strong>se</strong> ensaboa a roupa, e as frutas são umascontas tão re<strong>do</strong>ndas e negras, <strong>que</strong> parec<strong>em</strong> de pau evano tornea<strong>do</strong>, e assim não há mais <strong>que</strong> furá-las,enfiá-las, e rezar por elas.Há muita erva de anil, e de vidro, <strong>que</strong> <strong>se</strong> não lavra. Há muitas fontes, e rios caudalosos, com<strong>que</strong> mo<strong>em</strong> os engenhos de açúcar, e outros por onde entra a maré, mui largos e fun<strong>do</strong>s, e de boasbarras e portos para os navios.Quis um pintar uma cidade mui bastecida e abastada, e pintou-a com as portas <strong>se</strong>rradas, eferrolhadas, significan<strong>do</strong> <strong>que</strong> tu<strong>do</strong> tinha <strong>em</strong> si, e não era necessário vir-lhe alguma de fora, <strong>que</strong> é aexcelência; por<strong>que</strong> diz o Psalmista <strong>que</strong> louve a celestial cidade de Jerusalém ao <strong>se</strong>nhor / LaudaHierusalém <strong>do</strong>minum, lauda Deum tuum, Sion, quoniam confortavit <strong>se</strong>ras portarum tuarum/. Masnão faltou logo qu<strong>em</strong> contrafizes<strong>se</strong> e pintas<strong>se</strong> outra com as portas abertas, e por elas entran<strong>do</strong>carretas carregadas de mantimentos, dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> a<strong>que</strong>la era mais bastecida e abastada, n<strong>em</strong> lhefaltou outra autoridade com <strong>que</strong> a confirmar <strong>do</strong> mesmo Psalmista, o qual diz <strong>que</strong> ama Deus muito asPortas de Sion / diligit <strong>do</strong>minus portas Sion super omnia tabernacula Jacob/ e isto não por<strong>que</strong> astêm fechadas, <strong>se</strong>não abertas a naturais, e estrangeiros, a brancos e negros, <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s têm <strong>se</strong>u trato ecomércio / Ecce alieniginae et Tiros et populus Ethiopum hi fuerunt illic /. Conforme a isto digna éde to<strong>do</strong>s os louvores à terra <strong>do</strong> Brasil, pois primeiramente pode sustentar-<strong>se</strong> com <strong>se</strong>us portosfecha<strong>do</strong>s s<strong>em</strong> socorro de outras terras: Senão pergunto eu; de Portugal v<strong>em</strong> farinha de trigo? a da

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