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história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

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19As mães dão de mamar aos filhos <strong>se</strong>te ou oito anos, <strong>se</strong> tantos estão s<strong>em</strong> tornar a parir, e to<strong>do</strong>este t<strong>em</strong>po os traz<strong>em</strong> ao colo ora elas, ora os mari<strong>do</strong>s, principalmente quan<strong>do</strong> vão às suas roças,onde vão to<strong>do</strong>s os dias depois de almoçar<strong>em</strong>, e não com<strong>em</strong> enquanto andam no trabalho, <strong>se</strong>não àvéspera, depois <strong>que</strong> voltam para casa. Os mari<strong>do</strong>s na roça derrubam o mato, <strong>que</strong>imam-no, e dão aterra limpa às mulheres, e elas plantam, mondam a erva, colh<strong>em</strong> o fruto e o carregam, e levam paracasa <strong>em</strong> uns cofos mui grandes feitos de palma, lança<strong>do</strong>s sobre as costas, <strong>que</strong> pode <strong>se</strong>r suficientecarga de uma azêmola, e os mari<strong>do</strong>s levam um lenho aos ombros, e na mão <strong>se</strong>u arco e flechas, <strong>que</strong>faz<strong>em</strong> com as pontas de dentes de tubarões, ou de umas canas agudas, a <strong>que</strong> chamam taquaras, de<strong>que</strong> são grandes tira<strong>do</strong>res; por<strong>que</strong> logo ensinam aos filhos de pe<strong>que</strong>nos a tirar ao alvo, e poucasvezes tiram a um passarinho, <strong>que</strong> não o acert<strong>em</strong>, por pe<strong>que</strong>no <strong>que</strong> <strong>se</strong>ja .Também os ensinam a fazer balaios, e outras coisas de mecânica, para as quais têm grandehabilidade, <strong>se</strong> eles a <strong>que</strong>r<strong>em</strong> aprender, <strong>que</strong> <strong>se</strong> não <strong>que</strong>r<strong>em</strong> não os constrang<strong>em</strong>, n<strong>em</strong> os castigam porerros, e crimes <strong>que</strong> cometam, por mais enormes <strong>que</strong> <strong>se</strong>jam. As mães ensinam as filhas a fiar algodãoe fazer redes de fio, e nastros para os cabelos, <strong>do</strong>s quais <strong>se</strong> prezam muito, e os penteiam, e untam deazeite de coco bravo, para <strong>que</strong> <strong>se</strong> façam compri<strong>do</strong>s, grossos, e negros.Nas festas <strong>se</strong> ting<strong>em</strong> todas de jenipapo, de mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong> não é no cabelo parec<strong>em</strong> negras deGuiné, e da mesma tinta pintam os mari<strong>do</strong>s, e lhes arrancam o cabelo da barba, <strong>se</strong> acerta de lhenascer algum, e o das sobrancelhas e pestanas, com <strong>que</strong> eles <strong>se</strong> t<strong>em</strong> por mui galantes, junto comter<strong>em</strong> os beiços de baixo fura<strong>do</strong>s, e alguns as faces, e uns tornos, ou bato<strong>que</strong>s de pedras verdesmeti<strong>do</strong>s pelos buracos, com <strong>que</strong> parec<strong>em</strong> uns d<strong>em</strong>ônios.Pois hei trata<strong>do</strong> neste capítulo <strong>do</strong> contrato matrimonial deste gentio: tratarei também <strong>do</strong>smais contratos, e não <strong>se</strong>rei por isso prolixo ao leitor, por<strong>que</strong> os <strong>livro</strong>s <strong>que</strong> hão escrito os <strong>do</strong>utores decontractibus, s<strong>em</strong> os poder<strong>em</strong> de to<strong>do</strong> resolver pelos muitos, <strong>que</strong> de novo inventa cada dia a cobiçahumana, não tocam a este gentio; o qual só usa de uma simples comutação de uma coisa por outra,s<strong>em</strong> tratar<strong>em</strong> <strong>do</strong> excesso, ou defeito <strong>do</strong> valor, e assim com um pintainho <strong>se</strong> hão por pagos de umagalinha.N<strong>em</strong> jamais usam de pesos e medidas, n<strong>em</strong> têm números por onde cont<strong>em</strong> mais <strong>que</strong> atécinco, e <strong>se</strong> a conta houver de passar daí a faz<strong>em</strong> pelos de<strong>do</strong>s das mãos e pés, o <strong>que</strong> lhes nasce da suapouca cobiça; posto <strong>que</strong> com isso está <strong>se</strong>r<strong>em</strong> mui apetitosos de qual<strong>que</strong>r coisa <strong>que</strong> v<strong>em</strong>, mas tanto<strong>que</strong> a t<strong>em</strong>, a tornam facilmente de graça, ou por pouco mais de nada.CAPÍTULO DÉCIMO QUINTODa cura <strong>do</strong>s <strong>se</strong>us enfermos e enterro <strong>do</strong>s mortosNão há entre este gentio médicos sinala<strong>do</strong>s, <strong>se</strong>não os <strong>se</strong>us feiticeiros, os quais moram <strong>em</strong>casas apartadas, cada um per si, e com porta mui pe<strong>que</strong>na, pela qual não ousa alguém entrar, n<strong>em</strong>tocar-lhe <strong>em</strong> alguma coisa sua; por<strong>que</strong> <strong>se</strong> algum lhas toma, ou lhes não dá o <strong>que</strong> eles ped<strong>em</strong>, diz<strong>em</strong>vai, <strong>que</strong> hás de morrer, a <strong>que</strong> chamam lançar a morte, e são tão bárbaros <strong>que</strong> <strong>se</strong> vai logo o outrolançar na rede s<strong>em</strong> <strong>que</strong>rer comer, e de pasmo <strong>se</strong> deixa morrer, s<strong>em</strong> haver qu<strong>em</strong> lhe meta na cabeça<strong>que</strong> pode escapar, e assim <strong>se</strong> pod<strong>em</strong> estes feiticeiros chamar mais mata-sanos, <strong>que</strong> médicos, n<strong>em</strong>eles curam os enfermos, <strong>se</strong>não com enganos chupan<strong>do</strong>-lhes na parte <strong>que</strong> lhes dói, e tiran<strong>do</strong> da bocaum espinho ou prego velho, <strong>que</strong> já nela levavam, lho mostram dizen<strong>do</strong> <strong>que</strong> aquilo lhes fazia o mal,e <strong>que</strong> já ficam sãos, fican<strong>do</strong> eles tão <strong>do</strong>entes como de antes.Outros médicos há melhores, <strong>que</strong> são os acautela<strong>do</strong>s, e <strong>que</strong> padeceram as mesma<strong>se</strong>nfermidades, os quais aplican<strong>do</strong> ervas, ou outras medicinas, com <strong>que</strong> <strong>se</strong> acharam b<strong>em</strong>, saram o<strong>se</strong>nfermos, mas <strong>se</strong> a enfermidade é prolongada; ou incurável, não há mais qu<strong>em</strong> os cure, e os deixam

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