13.07.2015 Views

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

32Não menos foi o aperto <strong>em</strong> <strong>que</strong> Duarte Coelho / como t<strong>em</strong>os toca<strong>do</strong> / teve tu<strong>do</strong> este t<strong>em</strong>pona vila de Olinda, ten<strong>do</strong>-o por algumas vezes os inimigos posto <strong>em</strong> cerco <strong>em</strong> a sua torre, commuitas necessidades de fome e <strong>se</strong>de, contra qu<strong>em</strong> não valiam as balas, <strong>que</strong> valorosamente atiravamde dentro, ainda <strong>que</strong> com elas matavam muitos gentios e france<strong>se</strong>s: mas Deus Nosso Senhor, <strong>que</strong>excitou o ânimo de Raab, mulher desonesta, para <strong>que</strong> escondes<strong>se</strong> as espias de <strong>se</strong>u povo, e fos<strong>se</strong>instrumento da vitória <strong>que</strong> <strong>se</strong> alcançou contra Jericó, a excitou também a filha de um principaldestes gentios, <strong>que</strong> <strong>se</strong> havia afeiçoa<strong>do</strong> a um Vasco Fernandes de Lucena, e de qu<strong>em</strong> tinha já filhos,para <strong>que</strong> fos<strong>se</strong> entre os <strong>se</strong>us, e gaban<strong>do</strong> os brancos às outras as trouxess<strong>em</strong> todas carregadas decabaças de água, e mantimentos, com <strong>que</strong> os nossos <strong>se</strong> sustinham; por<strong>que</strong> isto faziam muitas vezes,e com muito <strong>se</strong>gre<strong>do</strong>, e era este Vasco Fernandes tão b<strong>em</strong> t<strong>em</strong>i<strong>do</strong> e estima<strong>do</strong> entre os gentios, <strong>que</strong> oprincipal <strong>se</strong> tinha por honra<strong>do</strong> <strong>em</strong> tê-lo por genro, por<strong>que</strong> o tinham por grande feiticeiro; e assimuma vez <strong>que</strong> o cerco era mais aperta<strong>do</strong> e estavam os de dentro receosos de os entrar<strong>em</strong>, saiu ele sófora, e lhes começou a pregar na sua língua brasílica, <strong>que</strong> foss<strong>em</strong> amigos <strong>do</strong>s portugue<strong>se</strong>s, comoeles o eram <strong>se</strong>us, e não <strong>do</strong>s france<strong>se</strong>s, <strong>que</strong> os enganavam, e traziam ali para <strong>que</strong> foss<strong>em</strong> mortos, elogo fez uma risca no chão com um bordão, <strong>que</strong> levava, dizen<strong>do</strong>-lhes <strong>que</strong> <strong>se</strong> avisass<strong>em</strong>, <strong>que</strong>nenhum passas<strong>se</strong> da<strong>que</strong>la risca para a fortaleza, por<strong>que</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>que</strong> passass<strong>em</strong> haviam de morrer,ao <strong>que</strong> o gentio deu uma grande risada, fazen<strong>do</strong> zombaria disto, e <strong>se</strong>te ou oito indigna<strong>do</strong>s <strong>se</strong> foram aele para o matar<strong>em</strong>, mas, <strong>em</strong> passan<strong>do</strong> a risca, caíram to<strong>do</strong>s mortos; o <strong>que</strong> visto pelos maislevantaram o cerco, e <strong>se</strong> pu<strong>se</strong>ram <strong>em</strong> fugida.Não crera eu isto, posto <strong>que</strong> o vi escrito por pessoa, <strong>que</strong> o afirmava, <strong>se</strong> não soubera <strong>que</strong>neste próprio lugar, onde <strong>se</strong> fez à risca, defronte da torre, <strong>se</strong> edificou depois um suntuoso t<strong>em</strong>plo <strong>do</strong>Salva<strong>do</strong>r, <strong>que</strong> é matriz das mais igrejas de Olinda, onde <strong>se</strong> celebram os divinos ofícios, com muitasolenidade e, assim não <strong>se</strong> há de atribuir aos feitiços <strong>se</strong>não à Divina Providência, <strong>que</strong> quis com est<strong>em</strong>ilagre sinalar o sítio, e imunidade <strong>do</strong> <strong>se</strong>u t<strong>em</strong>plo.Com estas e outras vitórias, alcançadas mais por milagres de Deus, <strong>que</strong> por forças humanas,cobrou Duarte Coelho tanto ânimo, <strong>que</strong> não <strong>se</strong> contentou de ficar na sua povoação pacífico, <strong>se</strong>nãoir-<strong>se</strong> <strong>em</strong> suas <strong>em</strong>barcações pela costa abaixo até o rio de S. Francisco, entran<strong>do</strong> nos portos to<strong>do</strong>s desua capitania, onde achou naus francesas, <strong>que</strong> estavam ao resgate de pau-<strong>brasil</strong> com o gentio, e asfez despejar os portos, e tomou algumas lanças e france<strong>se</strong>s, posto <strong>que</strong> não tanto a <strong>se</strong>u salvo, e <strong>do</strong>s<strong>se</strong>us, <strong>que</strong> não ficass<strong>em</strong> muitos feri<strong>do</strong>s, e ele de uma bombardada, de <strong>que</strong> an<strong>do</strong>u muito t<strong>em</strong>pomaltrata<strong>do</strong>, e contu<strong>do</strong> não <strong>se</strong> quis recolher até não a limpar a costa toda destes ladrões, e fazer pazescom os mais <strong>do</strong>s índios, e isto feito <strong>se</strong> tornou para a sua povoação com muitos escravos, <strong>que</strong> lhederam os índios, <strong>do</strong>s <strong>que</strong> tinham toma<strong>do</strong>s nas suas guerras, <strong>que</strong> uns lá tinham com os outros, o <strong>que</strong>fez também muito t<strong>em</strong>i<strong>do</strong>, e estima<strong>do</strong> <strong>do</strong>s circunvizinhos de Olinda, dizen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s <strong>que</strong> a<strong>que</strong>lehom<strong>em</strong> devia <strong>se</strong>r algum diabo imortal, pois <strong>se</strong> não contentava de pelejar <strong>em</strong> sua casa com eles, ecom os france<strong>se</strong>s, mas ainda ia buscar fora com qu<strong>em</strong> pelejar, e com isto mais por me<strong>do</strong> <strong>que</strong> porvontade lhe foram dan<strong>do</strong> lugar para fazer um engenho uma légua da vila, e <strong>se</strong>u cunha<strong>do</strong> Jerônimode Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong> outro; e os lavra<strong>do</strong>res suas roças de mantimentos, e canaviais, a <strong>que</strong> o gentio osvinha ajudar, e lhes traziam muitas galinhas, caças, e frutas <strong>do</strong> mato, peixe, e mariscos a troco deanzóis, facas, foices, e macha<strong>do</strong>s, <strong>que</strong> eles estimavam muito.Fez também caravelões, e lanchas <strong>em</strong> <strong>que</strong> foss<strong>em</strong> resgatar com os da costa com <strong>que</strong> tinhafeito pazes, <strong>do</strong>nde a troco das mesmas ferramentas, e de outras coisas de pouca valia, resgatavammuitos escravos e escravas, de <strong>que</strong> <strong>se</strong> <strong>se</strong>rviam, e os casavam com outros livres, <strong>que</strong> os <strong>se</strong>rviamtambém como os cativos.Ven<strong>do</strong> Duarte Coelho <strong>que</strong> a terra estava quieta, e os mora<strong>do</strong>res contentes, determinou ir-<strong>se</strong> aPortugal com <strong>se</strong>us filhos, deixan<strong>do</strong> o governo da capitania a <strong>se</strong>u cunha<strong>do</strong> Jerônimo de Albu<strong>que</strong>r<strong>que</strong><strong>em</strong> companhia da irmã.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!