13.07.2015 Views

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

história do brasil frei vicente do salvador livro primeiro em que se ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

133Receben<strong>do</strong> Baltazar de Aragão a provisão de capitão-mor da guerra desta Bahia, junto como aviso da vinda <strong>do</strong>s inimigo france<strong>se</strong>s, como diss<strong>em</strong>os no capítulo <strong>primeiro</strong>, logo começou aperceber e fortificar assim a cidade como a praia, cercan<strong>do</strong>-as de suas cercas de pau a pi<strong>que</strong>, comtanta diligência <strong>que</strong> a to<strong>do</strong> o instante trabalhava com os <strong>se</strong>us escravos, e cria<strong>do</strong>s s<strong>em</strong> ocupar aoutros, <strong>se</strong>não era a oficiais de carpinteiros, e pedreiros, com <strong>que</strong> fez de pedra e cal o muro e portalda barda <strong>do</strong> Carmo, <strong>que</strong> até então era de terra de pilão, reformou e fortificou as portas, o <strong>que</strong> tu<strong>do</strong>pagou da sua bolsa, e até os paus para a cerca da praia man<strong>do</strong>u vir qua<strong>se</strong> to<strong>do</strong>s nas barcas <strong>do</strong>s <strong>se</strong>u<strong>se</strong>ngenhos; estan<strong>do</strong> assim prestes aguardan<strong>do</strong> os inimigos, soube <strong>que</strong> andavam na barra para a parte<strong>do</strong> morro de São Paulo <strong>se</strong>is naus francesas, e aprestan<strong>do</strong> das portuguesas, <strong>que</strong> estavam à cargaoutras tantas, ele <strong>se</strong> <strong>em</strong>barcou <strong>em</strong> uma sua, <strong>que</strong> já tinha dentro 300 caixas de açúcar, levan<strong>do</strong>consigo suas charamelas, baixela de prata, e as mais ricas alfaias de sua casa, por<strong>que</strong> determinavalevar logo de lá a presa ao governa<strong>do</strong>r, <strong>que</strong> estava <strong>em</strong> Pernambuco.Das outras naus deu a melhor a Vasco de Brito Freire, <strong>que</strong> fez <strong>se</strong>u almirante, e as outras aGonçalo Bezerra, e Bento de Araújo, <strong>que</strong> eram capitães de el-rei, e comiam <strong>se</strong>u sol<strong>do</strong> nesta cidade,e ao alferes Francisco <strong>do</strong> Amaral, e a outro chama<strong>do</strong> Queirós; no dia <strong>se</strong>guinte depois <strong>que</strong> partiram,e foi o <strong>do</strong> b<strong>em</strong>-aventura<strong>do</strong> Apóstolo S. Mathias, encontraram com os france<strong>se</strong>s, e pelejaram de partea parte animosamente, e os nossos com muita vantag<strong>em</strong>, por<strong>que</strong> lhes tomaram uma nau, e lhestrataram a almeiranta tão mal, <strong>que</strong> ao outro dia <strong>se</strong>guinte <strong>se</strong> foi ao fun<strong>do</strong>, só a capitania quis Baltazarde Aragão poupar, não <strong>que</strong>ren<strong>do</strong> <strong>que</strong> lhe tirass<strong>em</strong> <strong>se</strong>não abalroar com ela, e tomá-la Sá e inteirapara a levar por troféu <strong>em</strong> <strong>se</strong>u triunfo, mas não <strong>se</strong>i <strong>se</strong> com este vento <strong>se</strong> com outro, <strong>que</strong> lhe deu nasvelas, quan<strong>do</strong> ia já para a ferrar pendeu tanto a sua nau, <strong>que</strong> tomou água pelas portinholas daartilharia, e calan<strong>do</strong>-<strong>se</strong> pelas escotilhas, <strong>que</strong> iam abertas, foi entran<strong>do</strong> tanta, <strong>que</strong> <strong>em</strong> continenti <strong>se</strong> foiao fun<strong>do</strong> com <strong>se</strong>u <strong>do</strong>no, o qual quan<strong>do</strong> <strong>se</strong> fazia, diz<strong>em</strong> <strong>que</strong> dizia “Faço o meu ataúde”, e com ele <strong>se</strong>afogaram mais de 200 homens assim dentro na nau, como nadan<strong>do</strong> no mar, <strong>do</strong>nde não houve qu<strong>em</strong>os tomas<strong>se</strong>, por<strong>que</strong> a Almeiranta <strong>se</strong> recolheu, e os mais com ele, poden<strong>do</strong> <strong>se</strong>guir a vitória com muitafacilidade, e <strong>se</strong> alguns <strong>se</strong> salvaram foi nadan<strong>do</strong> até às naus <strong>do</strong>s inimigos, <strong>que</strong> os tomaram, como foiFrancisco Ferraz, filho <strong>do</strong> des<strong>em</strong>barga<strong>do</strong>r Baltazar Ferraz, <strong>que</strong> era sobrinho da mulher <strong>do</strong> Aragão, oqual depois deitaram os france<strong>se</strong>s <strong>em</strong> terra 60 léguas <strong>do</strong> Rio Grande para o Maranhão com outros<strong>do</strong>is ou três homens, onde de fome e cansaço <strong>do</strong> caminho morreu ao passar de um rio a puramíngua, <strong>se</strong>n<strong>do</strong> <strong>que</strong> tinha de patrimônio nesta Bahia mais de 50 mil cruza<strong>do</strong>s, por<strong>que</strong> também <strong>se</strong>upai morreu logo de desgosto; e publicamente <strong>se</strong> dis<strong>se</strong> <strong>se</strong>r justo juízo de Deus por um casoexorbitante, <strong>que</strong> pouco antes havia aconteci<strong>do</strong>, e foi o <strong>se</strong>guinte.Tinha Baltazar Ferraz aqui um sobrinho, o qual <strong>se</strong> enamorou de uma moça casada com ummancebo honra<strong>do</strong>, e chegou a tirar-lha de casa, e trazê-la de sua mão por onde <strong>que</strong>ria, e finalment<strong>em</strong>andá-la para Viana <strong>do</strong>nde era natural; <strong>que</strong>relou dele o mari<strong>do</strong>, diante <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r-geral Pero deCascais, <strong>que</strong> o prendeu valorosamente, e preso na cadeia <strong>se</strong> <strong>livro</strong>u até final <strong>se</strong>ntença, trabalhan<strong>do</strong> otio tanto <strong>em</strong> desviar test<strong>em</strong>unhas, recusar a parte, e outras astúcias, <strong>que</strong> os des<strong>em</strong>barga<strong>do</strong>res ojulgaram por solto, e livre, e <strong>se</strong> os prega<strong>do</strong>res o estranhavam no púlpito, diziam <strong>que</strong> eram unsignorantes, e <strong>que</strong> nunca outra mais justa <strong>se</strong>ntença <strong>se</strong> dera no mun<strong>do</strong>, e assim não havia maisr<strong>em</strong>édio <strong>que</strong> apelar para Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual como reto juiz permitiu <strong>que</strong> o réu <strong>se</strong><strong>em</strong>barcas<strong>se</strong> com o primo e parente, e to<strong>do</strong>s acabass<strong>em</strong> desastradamente, e o tio <strong>que</strong> <strong>se</strong> não<strong>em</strong>barcou também com eles.Outro mancebo chama<strong>do</strong> Agostinho de Paredes foi a na<strong>do</strong> até a almeiranta <strong>do</strong>s inimigos,mas como estavam coléricos por lhe ter<strong>em</strong> a nau tão maltratada, não o qui<strong>se</strong>ram recolher, antes in<strong>do</strong>subin<strong>do</strong> o feriram com um pi<strong>que</strong> <strong>em</strong> um ombro, de <strong>que</strong> depois de escapar <strong>do</strong> naufrágio, e <strong>do</strong>stubarões, <strong>que</strong> o iam <strong>se</strong>guin<strong>do</strong> pelo sangue, nadan<strong>do</strong> mais de uma légua para a terra, esteve a pontode morte <strong>em</strong> mãos de cirurgiões, mas sarou, e viveu depois muitos anos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!